Água e internet demais podem fazer mal

Vivemos crises a todo instante e estar viciada em internet é mais uma delas

Victória Coelho

Liguei o computador e de maneira involuntária cliquei no ícone da internet. Sem piscar ou pensar, meus dedos foram digitando freneticamente a seguinte palavra: facebo, antes de finalizar, parei, respirei mais uma vez e chorei com um questionamento instaurado no meu peito, que batia no ritmo do cursor do teclado. Me senti vulnerável. Era só um computador. Foi aí que as coisas se agravaram.

Esqueci meu celular na casa de uma amiga e só consegui “resgatá-lo” três dias depois. Em várias ocasiões, segundos de pânico pairavam sobre mim por conta do bendito celular. Vasculhava em tudo buscando por ele, até que a sanidade retornava aos poucos e eu caia em si, o celular não estava comigo. Quando o recebi da minha amiga, sorri feito boba. Ele havia voltado. Estava salvo e abarrotado de mensagens no WhatsApp, notificações no Facebook e um emaranhado de novidades dos meus seguidores no Instagram.

A Gabriela Pugliese continuava lá, linda e magra. Uma amiga de infância que casara há poucos meses estava grávida e já sábia até o sexo do bebê. O Evaristo Costa, como sempre a me fazer curtir e marcar meus amigos em suas publicações. Naquele mesmo instante de zapeamento hard fui ao Spotify e cliquei na minha playlist. Uau! Que esplêndido! Era tudo que eu precisava para ser feliz, pensei comigo. De olhos fechados, me sentia feliz e grata pelas tecnologias que a vida me apresentara em 19 anos de existência.

Pouco tempo depois acabou tudo. Música, mensagens chegando e a conexão com a internet. Mais uma vez, estava lá. Desolada. Reiniciando o telefone, o roteador. Não queria aquilo, não naquele momento, ou talvez, não queria nunca. Diante de toda essa magia que mesclava prazer com desespero disse para mim mesmo: estou viciada em internet, celular, computador e tudo que você, caro, leitor, pensou neste exato instante de tempo.

Enquanto eu escrevia esse texto/desabafo ou como quiser chamar, há outra infinidade de páginas abertas no Google e meu celular está aqui ao meu lado. Olhei para ele e uma luzinha pisca constantemente. Às vezes ele vibra, mas eu prometi acabar o texto sem tocar nele. Escrevendo sobre a crise de estar viciada em internet perguntei aos meus colegas de trabalho se eles tinham a mesma sensação e a resposta foi unânime: todo mundo compartilhava do mesmo sentimento que eu. Ufa! Respirei aliviada. Não estou sozinha nessa luta.

Li pesquisas que fiz na internet e todas me davam um veredito: a maioria está como eu e meus colegas de trabalho. Além da afirmação, por mais controverso que pareça, existe na internet alternativas para deixar de ser viciado em internet. Uma loucura. As consequências de quem encara a abstenção de um vício por qualquer que seja é assustadora, com a internet não seria diferente. Lembrei de uma amiga que está fazendo uma “semana off” e fui tirar umas dúvidas.

Fui logo mandando mensagem, aí lembrei que seria impossível que ela respondesse. Liguei no trabalho e ela não estava. Pronto. Estávamos incomunicáveis. Pensei que pudesse mandar um telegrama, talvez. Voltei a realidade e lembrei que moro no mesmo lugar que ela e estudamos na mesma sala. Encontrá-la pessoalmente fica a um click, melhor dizendo, a um passo. Com todos esses questionamentos e apurações fico com a certeza das incontáveis benfeitorias das tecnologias, como por exemplo permitir conexão em tempo real aos amigos e familiares que estão a milhas e milhas de mim. Quanto aos malefícios, sigo a premissa do equilíbrio, afinal de contas, o excesso nunca foi benéfico. Como dizia minha avó, até água demais faz mal.

Crédito da foto: https://goo.gl/sneasW

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