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A “Consciência Negra” deve ser compreendida no plano da luta coletiva da população negra no passado e no presente

Maria Teófilo

Nesta semana, é comemorado o dia da Consciência Negra (20/11), uma data para relembrar a importância de refletir a posição do negro na sociedade. A expressão “Consciência Negra” remete à percepção cultural e histórica que os próprios negros têm de si mesmos.

Como surgiu a data?

A Lei n.° 10.639 estabeleceu a comemoração da data em 2003. Além disso, o tema “História e Cultura Afro Brasileira” foi incluso no conteúdo escolar do país. O feriado é facultativo. Isso quer dizer que nem todos os municípios do país consideram este dia como folga, e acabam por exercer suas atividades normalmente.

O que essa data representa?

A data foi escolhida por ter sido exatamente o dia em que o líder negro Zumbi dos Palmares foi morto, em 1695, ao lutar contra a escravidão que seu povo enfrentava no Nordeste. Ele coordenava um dos Quilombos mais conhecidos do país – Palmares – e o movimento antiescravagista realizado por pessoas negras. Entretanto, tais causas eram consideradas clandestinas até a abolição da escravatura. Ela ocorreu em 13 de maio de 1888, com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel. Entre a morte de Zumbi e a alforria dos negros, se passaram 193 anos.

Curiosidades

A palavra “Áurea” significa “de ouro”. A expressão é referente ao caráter glorioso da lei que acabou com a forma desumana que os negros eram tratados. Como eram considerados propriedade privada por seus “senhores”, podiam ser comprados e/ou vendidos a qualquer momento. Suas fugas causavam prejuízos econômicos, por isso se tornavam objeto de violência e repressão não somente por parte de seus donos, mas, também, do Estado.

Quem foi Zumbi dos Palmares?

Francisco Nzumbi (nome de batismo de Zumbi dos Palmares) nasceu livre em meados de 1655 na Serra da Barriga. Na época, o local fazia parte da Capitania de Pernambuco. Hoje, é pertencente ao estado do Alagoas. Vivia em uma comunidade de negros fugidos de seus “senhores”. Após ser capturado por um padre, aprendeu latim e português. Aos 15 anos, fugiu para um lugar chamado Quilombo dos Palmares, localizado também na Serra da Barriga. Viveu lá pela maior parte de sua vida e deu origem ao movimento negro de libertação. Enquanto esteve no Quilombo, lutou bravamente pelo território, criou resistência, e, por isso, adotou o nome de Zumbi, que significa “guerreiro”. Zumbi dos Palmares foi assassinado pelo capitão Furtado de Mendonça a mando de Domingos Jorge Velho, que exigiu a cabeça do líder. Ela foi exposta em praça pública em Recife. Seu exemplo de bravura foi passando de geração em geração, e, sua história, contada não somente às comunidades quilombolas, mas para todos os estudantes brasileiros. Por isso, é visto como o herói do povo negro.

Relação entre o líder e a consciência negra

Apesar da data comemorativa estar relacionada à morte de Zumbi, não podemos esquecer que o propósito desse dia é o plano de luta coletiva da etnia negra no passado e no presente. Maria José Marinho Franco é pedagoga em uma comunidade quilombola chamada Colônia do Paiol, em Bias Fortes (MG). Além disso, é descendente de escravos. Ela fala da importância de conscientizar o seu povo na comunidade. “Não é somente mostrar ao outro o nosso valor, mas nós mesmos termos a consciência do quanto somos importantes na sociedade”, pondera. A professora também expõe que, há anos, comemora-se esse dia, e este ano não será diferente. As festividades começam no dia 20 e vai até o dia 23 com apresentação cultural, desfile da beleza negra infantil, celebração de missa afro e várias outras programações abertas ao público. Maria José também é a líder da comunidade e trabalha em conjunto com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Segundo a pedagoga, a parceria ajudou na autoestima dos moradores da comunidade e na convivência mútua. “A presença da UFJF em nossa comunidade mudou nossa maneira de pensar e agir. Nós vivemos mais felizes. Hoje lidamos de boa com a transição capilar e as mulheres se expõem sem vergonha do jeito que são. Aceitamos nossa raça e a festa nos ajuda a divulgar isso”, completa.

Cultura negra é cultura brasileira

No Unasp Engenheiro Coelho, há um grande número de estudantes africanos. Isso faz com que a cultura afrodescendente seja forte na instituição. Uma das manifestações culturais é o Coral dos Angolanos. Apesar do nome, seus membros não são apenas de Angola; muitos são, inclusive, brasileiros. De acordo com o atual regente Domingos Madeira, o coral surgiu em meados de 2011. Ele lidera o grupo há três anos, e é natural da República Democrática do Congo. Madeira consegue avaliar as mudanças culturais de um país para outro, principalmente em como membros do Coral lidam com sua identidade negra no Brasil. “Isso é decorrente da diferença e o impacto com a outra cultura. Os integrantes brasileiros recebem normalmente e aprendem a lidar fácil com isso. Sei que nossas culturas são muito diferentes, mas, com respeito, temos um bom resultado”, enaltece o regente.  Para promover a identidade africana, o regente aderiu a um repertório totalmente voltado aos estilos musicais e de performance do continente. Jessik Marães é uma das brasileiras que faz parte do coral. Ela conta que sempre desejou associar-se a um grupo totalmente diferente do que já havia participado antes. “A alegria e leveza com que cantavam não só com as vozes, mas também o jeito com que se apresentam foram, sem dúvidas, os pontos que mais encantaram”, exclama. Ainda deslumbrada, ela revela perceber diferenças após convivência com as pessoas de cultura africana. “Me vejo mais sociável, respeitando mais as diferenças, e, acima de tudo, valorizo muito mais o que temos em comum. Quando estamos juntos, acredito que sempre encontramos um sorriso em nós mesmos ou nos outros que mostram que Deus tem cuidado de tudo”, frisa.

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