Famílias Reconfiguradas

Emanuely Miranda

Um casal com filhos não corresponde ao único modelo familiar em nossa sociedade

No imaginário dos brasileiros, habita um modelo do que se espera como ideal para uma família. No entanto, um casal com filhos já não corresponde à maioria dos lares. Nos últimos vinte anos, a sociedade passou por um processo de reconfiguração. Em 1995, o perfil mais tradicional equivalia a 58% das famílias, mas atualmente essa porcentagem desceu para 42%.

O Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou, por exemplo, que o número de pessoas que vivem sozinhas subiu de 7,9% para 14,5%. Outra característica notada foi a crescente quantidade de mulheres que dispensam a maternidade. O índice passou de 2,4% para 3%.

A professora de história Thaís Gonçalves explica que o desenvolvimento da atuação feminina na sociedade justifica essa nova tendência. “Antigamente, as mulheres serviam apenas para gerar filhos. Esse cenário só começou a mudar a partir da Segunda Guerra Mundial”, afirma. Com a participação dos homens nas batalhas, as mulheres tiveram que assumir as responsabilidades que outrora cabiam ao sexo masculino. Desde então, o feminino tem ampliado seu papel.

Por outro lado, o levantamento, que teve como base a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad), constatou ainda outro aspecto relacionado às mulheres. Elas assumiram o comando de 40% das casas brasileiras. Em 1995, essa situação correspondia a 25% dos domicílios. A dona de casa Hilda Pacheco faz parte dessas estatísticas.

Desde a separação, ela se tornou a pessoa de referência em sua casa e criou os três filhos sozinha. “Não foi nada fácil”, desabafa. Ela enfrentou percalços para suprir as demandas da casa, mas conseguiu superar as adversidades. Hilda acredita que seu núcleo familiar é completo a despeito de não se assemelhar ao estipulado como senso comum.

Cristina Santos, técnica em patologia, também vive uma realidade que não corresponde ao esperado, pois é casada com uma mulher e, juntas, educam uma filha. “A família é responsável por ensinar valores morais e sociais aos filhos. Para isso, é preciso incluir respeito e apoio incondicional”, defende. Ela ainda exalta a importância do amor.

O professor de história Roy Júnior relembra o fato de que a Constituição caracteriza uma entidade familiar apenas como o resultado da união entre homem e mulher. Esse pressuposto exclui muitos brasileiros. “Será que isso vai mudar? Se depender da bancada de senadores e deputados atuais, isso não ocorrerá tão cedo”, acredita. Ele enfatiza que Brasília só vai mudar se a mentalidade dos brasileiros fomentar tais mudanças.

Como professor, Júnior busca catalisar o processo de modificação das mentalidades em seus alunos e pensa que o estímulo da alteridade é o princípio para conseguir esse propósito. “Gosto de dizer para eles que o mundo é plural, pois cada lugar tem suas caraterísticas próprias. Também tenho o costume de dizer que se juntássemos todos os habitantes do planeta seriamos uma grande família”, finaliza.

Link da imagem: https://goo.gl/B5Vg4W

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