Inflação no céu: preços das passagens aéreas disparam nos últimos meses

A elevação do preço do petróleo e da querosene de aviação são as principais causas do aumento no valor dos voos domésticos e internacionais.

Cristina Levano

Em março, os preços dos bilhetes aéreos cresceram até 40%, em relação a fevereiro e devem continuar subindo este mês. Com base nas tarifas médias praticadas no mês passado, as plataformas buscadoras de viagens, Decolar e Kayak, realizaram levantamentos onde mostraram as altas expressivas nas rotas de grande demanda, principalmente no mercado doméstico do Brasil.

O aumento das passagens nos últimos meses se deve principalmente à subida do combustível em meio da guerra na Ucrânia afetando um dos principais insumos das aéreas, a querosene de aviação, que segundo especialistas do setor aéreo, atualmente representa um terço do preço da tarifa.

Por mais que a inflação aérea ocorra desde antes do conflito, o maior aumento se percebeu após começar o período da guerra.  A diretora de voos da Decolar, Daniela Araújo disse que “o aumento dos preços e combustível de aviação conta muito nessa alta, mas na aviação doméstica há ainda a demanda que estava aquecida nos últimos meses, diferentemente do cenário da aviação internacional, cuja demanda tem crescido mais nas últimas semanas com a flexibilização de algumas barreiras sanitárias, especialmente na Europa”, em entrevista para o repórter de economia Iván Martínez, do Globo.

Lígia Angela Leite, fundadora da Criativa Humana, costuma viajar com frequência por causa de seu trabalho e percebeu que os valores de bilhetes no mercado doméstico aumentaram mais proporcionalmente do que os internacionais. “Pros Estados Unidos, eu e o meu marido pagamos oito mil reais para ida e volta, e aí de São Paulo a Rio de Janeiro, se não compramos com antecedência, chega a custar dois mil e quinhentos reais”, afirma.

Nacional

Em fevereiro, o mercado doméstico brasileiro de aviação apresentou uma alta nos indicadores de oferta e demanda de 25% e 29% respectivamente. Esses itens desandaram 14%, na oferta, e 17% na demanda em comparação com o 2019, segundo a  RPK. 

Assim mesmo a  oferta de assentos (ASK) apresentou uma queda de 14,3% em igual base de comparação. Os dados foram divulgados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) na sexta-feira.

Na investigação da plataforma Decolar, pode-se perceber aumentos nos dois últimos meses entre 16% e 40% em relação às rotas com origem nos aeroportos de São Paulo (Guarulhos e Congonhas). Por exemplo, o valor dos voos de São Paulo a Brasília custava ao passageiro R$ 627,45 em fevereiro, e passou a R$ 724,71 em março. No Rio de Janeiro passou de R$ 504,19 a R$ 598,99 no mês passado, uma elevação de 19% e as rotas para Recife tiveram uma alta de 40%.

Já segundo os registros de Kayak, o acréscimo no valor das passagens nos dez destinos mais buscados, Brasilia, Florianópolis, Sao Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Natal, Salvador, Fortaleza, Maceió e Recife, é ainda maior considerando a média dos bilhetes de diferentes origens no Brasil, sendo a maior alta nos trechos para a capital do país, com 62%. Em janeiro, o custo de boleto para Brasília, Florianópolis e São Paulo partindo de diferentes locais subiram 62%, 51% e 49% no período, respectivamente. O preço médio de um bilhete para Brasília, em março, foi de R$ 1058, na Capital catarinense R$ 1.149 e em São Paulo R$ 1.021.

Lígia, narra que viaja pelo menos duas ou três vezes ao exterior, mas aqui no Brasil, por questões laborais. “Eu e as pessoas na empresa temos que  viajar frequentemente, porém, continuamos comprando passagem toda semana mesmo que estejam mais caras”. A sócia-proprietária alegou, que antes comprando com antecedência, muitas vezes, conseguia preços bons, mas agora não tem mais as promoções que as empresas costumavam oferecer.

Por outro lado, Francine Reis, criadora do 3F Turismo diz que conforme a pandemia vai tendo suas regras liberadas as pessoas acham que podem viajar mais. Segundo ela “no mundo das milhas nem sempre afeta, o que afeta e a busca de destino,” acrescenta.

Internacional

Por outro lado, no mercado internacional, em fevereiro deste ano, a demanda de passageiros e a oferta por voos apresentaram queda de 47% e 41,8%, respectivamente, mas ainda sendo uma recuperação frente aos números recolhidos em janeiro (a queda havia sido maior, de 50,4% na demanda e 44% na oferta) continua sendo baixa, segundo dados divulgados na sexta-feira, 1ª de abril, pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). 

Complementando, a pesquisa da Decolar mostra que, de fevereiro para março, o preço médio das passagens aéreas internacionais mais buscadas, partindo dos aeroportos de São Paulo, registrou alta de até 22%. Um dos destinos no topo da lista dos aumentos das rotas internacionais é Barcelona, na Espanha, com tarifa média de R$ 4.541 no mês passado, seguido por a passagem à Orlando, nos EUA. 

Mas em comparação ao ano passado, os voos internacionais ainda estão caros. Sara Rodrigues ia fazer missão em Moçambique, mas seus planos foram afetados por acrescida. 

“A gente tinha planejado a viagem para julho de 2020 e ela estava em 460 dólares fora as taxas, e agora tentando remarcar para julho de 2022, a gente não conseguiu nenhum preço abaixo de 921 dólares fora as taxas. Ou seja, a gente ia ter que pagar além do que a gente já tinha pago quase quatrocentos e sessenta dólares Então a gente não vai mais conseguir fazer essa viagem”, disse a aluna.

Lídia conta que tinha planejado uma viagem ao Oriente Médio com seu marido, mas pela inflação, não conseguiram viajar. “Nós tínhamos uma viagem programada para Israel, mas tivemos que pedir o reembolso das passagens pois, devido ao aumento de preço nas passagens e tal, ficou inviável viajar”, explica.

Ajuda ao consumidor

O especialista em educação financeira e milhas aéreas José Passos explicou para o Correio Braziliense que o consumidor pode atenuar os preços usando a quebra de trechos e escalas. Pode cotar os voos para aeroportos próximos do seu destino final e, de lá, pegar um novo. A melhor dica, porém, é se programar. “Sempre pesquisar com bastante antecedência seu voo e utilizar milhas na emissão da sua passagem. Isso requer planejamento”, aponta.

Araújo, da Decolar, agrega que o conhecido truque de procurar passagem de madrugada na internet não funciona mais. “Por meio de alertas, as pessoas recebem ofertas com antecedência. Há ferramentas de inteligência artificial, de acordo com o perfil do consumidor, que podem ser acionadas a qualquer hora”, finaliza dizendo. Em adição se recomenda aos consumidores ficar atentos a promoções e a cobranças abusivas.

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