IPCC recomenda vegetarianismo para salvar o planeta

Hellen Piris

O relatório publicado este mês pelo Painel Intergovernamental para a Mudança de Clima (IPCC) destaca a importância e necessidade de limitar o aquecimento global em até 1,5 graus Celsius para que a vida na Terra continue possível. Além disso, menciona a urgência de mudanças alimentares na população, e, aconselha: o vegetarianismo é melhor opção para apoiar a luta contra as mudanças climáticas.

Você com certeza já ouviu dizer que “o planeta precisa da sua ajuda”, ou, que, “dentro de 50 anos, a Terra não será mais habitável”. Outra fala muito comum é de que “cada um de nós pode fazer uma diferença significativa”. É importante lembrar que essa última frase é, de fato, real. A bióloga e advogada Larissa Reis indica que as grandes corporações não são as únicas culpadas pela imensa poluição ao meio ambiente, e sim os consumidores dos produtos que elas elaboram. Afinal, “Como as grandes corporações ganham dinheiro? O que elas produzem? Quem consome o que elas oferecem como produto? Somos nós! Se nós mudarmos nossos padrões de consumo, as grandes corporações não vão ter outra saída a não ser mudar os seus padrões de atuação, qualidade, procedimentos, entre outros”, salienta. Larissa também explica que o processo de mudança das grandes empresas, mesmo que lento, já começou. Trata-se da chamada responsabilidade socioambiental. Em países com maior consciência ambiental coletiva, as empresas que não manifestam nitidamente este tipo de comportamento já vem sofrendo retaliações, pois já não conseguem consumidores para os seus produtos, tornando-se insustentáveis. Esta rejeição à corporações sem consciência ambiental se expande até o comércio internacional, já que “diversos países da União Europeia, por exemplo, não estão querendo importar produtos agrícolas do Brasil devido ao uso exacerbado de agrotóxicos, liberados nos últimos meses”, explica a bióloga.

Alimentação que cura o planeta

O IPCC também recomenda uma dieta vegetariana, baseada em frutas, verduras, legumes e grãos. Isso pode soar estranho aos ouvidos de muitos. Afinal, o que nossa alimentação tem a ver com as mudanças climáticas? Larissa argumenta que nossos hábitos demandam uma produção demasiada de comida. Isso degrada as condições do solo, “e assim gera uma série de consequências danosas ao meio ambiente. No relatório, os cientistas apontam a existência de um efeito de ‘retroalimentação’: a produção de alimentos aumenta o aquecimento global, enquanto as mudanças climáticas decorrentes ameaçam a produção de alimentos”.

A bióloga também explana que o sistema alimentar atual está “baseado fortemente na produção agropecuária, ou seja, na produção de carne animal para o abate”. A pecuária traz consequências negativas ao meio ambiente e à saúde humana. Gases do efeito estufa são emitidos pelos animais; há “desmatamento de florestas nativas que são substituídas por pasto ou plantação de soja para alimentar o gado; além do uso intensivo de água e energia para manter esse tipo de produção”. Ela exemplifica: “para produzir 4 hambúrgueres, são necessários 25 kg de ração para os animais, 25 metros quadrados de terra e 220 litros de água. Isso sem falar nas questões que envolvem o uso de antibióticos e hormônios na criação destes animais, com efeitos diretos na saúde humana e no equilíbrio ecológico”.

A pessoa que consome carne regularmente e deseja virar vegetariana pode realizar esta transição com a certeza de que a ausência desse alimento em sua dieta não trará dificuldades à saúde. O médico e diretor do Centro de Vida e Saúde (Cevisa) Elson Nunes, acredita que, para facilitar a vida do paciente, a transição deve ser feita de maneira progressiva. “Quando a mudança é progressiva, a pessoa pode ir se adaptando e aprendendo outras opções, além de sofrer menos, inclusive socialmente”, frisa. Além disso, ele observa que “as pessoas se preocupam muito com as deficiências nutricionais quando querem virar vegetarianos, mas não se preocupam quando estão comendo carne. Nós deveríamos nos preocupar com o que deixamos de comer da alimentação saudável, e não somente retirar algum alimento que faz mal”. O médico também salienta que existe muitos alimentos industrializados veganos que não deveriam ser utilizados para substituir a carne, já que o seu consumo também possui consequências para a saúde humana e o meio ambiente. “Quanto mais natural é a alimentação, melhor será para a saúde”, garante.

Existe também a preocupação de que, quando deixamos de consumir carne, não será possível substituir o ômega 3 e o ômega 9, ácidos graxos essenciais para o organismo, além de outras vitaminas. No entanto, é totalmente possível encontrar estas sustâncias em alimentos naturais. Linhaça, chia e algas são uma ótima fonte de ômega 3, e o ômega 9 pode ser achado no abacate e no açaí. Contudo, Nunes afirma que “a vitamina b12 é o único nutriente que podemos desenvolver deficiência com a alimentação vegetariana estrita”. Porém, o médico lembra que esse problema não é só de quem corta as proteínas animais de seu cardápio, já que “50% dos onívoros também possuem deficiência dessa vitamina, precisando de suplementação também”. Finalmente, o ele ressalta que “não existe nenhum ponto negativo em deixar de comer carne, a não ser que a pessoa não aceite comer alimentos naturais frescos. O ferro, o cálcio e as vitaminas são facilmente substituídos por uma alimentação natural, saudável e com variedade”. Para Nunes, que é vegano, “todo mundo ganha quando deixa de comer animais: a saúde da pessoa, o meio ambiente, e, inclusive, o animal”.

Florestas

Todos nós conhecemos a importância que as florestas representam para o equilíbrio ecológico. Em um sistema onde os humanos inspiram oxigênio e expiram dióxido de carbono, enquanto as plantas fazem exatamente o contrário, e impossível ignorar o valor que biomas ricos em vegetação possuem. A bióloga Larissa observa que diversos estudos comprovaram a importância das “florestas em pé” possuem. Elas são “a maior arma contra as mudanças climáticas, pois as florestas são reservatórios naturais de dióxido de carbono, impedindo este gás de subir à atmosfera”. De acordo com a também bióloga Luciana Ribeiro, o dióxido de carbono está entre os gases que mais contribuem para o aquecimento global. Apesar de ser produzido por nós, só se torna prejudicial em grandes quantidades. Hoje, isso é comum devido à queima de combustíveis fósseis e ao desmatamento, já que as plantas são impossibilitadas de fazerem seu trabalho para o equilíbrio ecológico. No entanto, ela reforça que o gás Metano, expelido pelo gado e produzido em aterros sanitários, também é um dos mais nocivos. Isso vai de acordo com as recomendações do IPCC. Para Larissa, enquanto o solo e as florestas permanecerem deterioradas, assim como se encontram atualmente, as mudanças climáticas se degradarão. Por conseguinte, a saúde humana e os parâmetros para uma vida sadia piorarão, beirando níveis de ameaça à sobrevivência.

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