La Niña aumenta risco da crise hídrica no Brasil

O fenômeno climático diminui a quantidade de chuvas na região sul do país.

Lucas Pazzaglini

A “anomalia” climática oceânica-atmosférica, conhecida como La Niña, chega mais uma vez ao Brasil, após um período de equilíbrio atmosférico. O fenômeno será sentido nos próximos meses e deve perder sua força apenas na primavera de 2022. Por diminuir a temperatura das águas no Oceano Pacífico e provocar menos chuvas, pode causar estiagem e reduzir ainda mais o volume de água nos reservatórios.

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) percebeu a aproximação do evento no último mês, ao detectar fatores como temperaturas abaixo da média no Pacífico. A preocupação maior é com a atual crise hídrica que pode ser agravada pelo evento climático. 

O professor de geografia, Alexandre Cury, explica que “no Brasil as consequências mais observadas são o aumento de chuvas nas regiões Norte e Nordeste e em contrapartida uma estiagem nas regiões Sudeste e Sul do país”. Os reservatórios abrigados nas regiões que o La Niña provoca a seca estão operando com baixa capacidade, como o do estado de São Paulo, que está enfrentando os níveis mais baixos em oito anos.

“O La Niña pode afetar o período úmido, fazendo com que chova menos onde mais precisamos, o que pode reduzir a vazão nas principais bacias e gerar mais problemas a partir do ano que vem”, destaca Bernardo Marangon, especialista em mercados de energia elétrica, em entrevista ao Um Só Planeta.

Para os pesquisadores da NOAA as condições para o evento climático se desenvolveram e devem continuar com 87% de probabilidade entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022. Fugindo do comum, esses sinais começaram a ser observados durante o outono, e não no verão, como em outros anos. 

Efeito na agricultura

A produção agrícola no Brasil sofre de forma direta com o fenômeno. Enquanto nas regiões do sul a preocupação é com a seca, senhor Celso, como gosta de ser chamado, se preocupa com a abundância de chuvas na sua plantação, no interior do Pará. “A chuva está meio bagunçada, não deu o tempo da estiagem que a gente precisa”, afirma. O fazendeiro espera que durante o inverno a chuva amenize em sua região. 

De forma geral, o La Niña favorece as plantações de trigo, cevada e aveia, que são culturas de inverno e, consequentemente, prejudica o plantio de soja, milho e feijão. O professor Cury enfatiza que “o atraso do regime de chuvas no Centro-Oeste impacta negativamente a produção de soja, um dos principais produtos exportados pelo Brasil.” 

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro recuou 0,1% desde o começo da crise hídrica. A seca ainda deve fazer com que o PIB do agronegócio recue pela primeira vez desde 2016, como afirmou Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria Tendências, em entrevista ao G1.

Sair da versão mobile