Maria: o retrato de milhares de brasileiras (quase) anônimas

No Dia Internacional da Mulher, brasileiras extraordinárias falam sobre suas vidas comuns

Helena Cardoso e Mariana Santos

Você com certeza conhece uma Maria. Ela é a sua mãe, sua filha, sua avó ou sua irmã. É a mulher pernambucana “dura na queda e boa de briga” que criou os sete filhos sozinha porque o ex-marido “levantou a mão” para ela. Maria é o nome que representa cada mulher brasileira e também é o tema da música “Maria vai com as outras”, da cantora e compositora Midian Nascimento, lançada em três de março.

A avó de Midian, Dona Regina Maria, faleceu quando a cantora tinha apenas seis anos de idade, mas a admiração permanece forte e influencia diretamente em seus trabalhos artísticos. “Apesar da minha intenção ter sido, em um dos trechos, falar especificamente da minha Maria (vovó), acredito que a história da mulher mãe solteira/separada, analfabeta e excluída das oportunidades seja muito comum no Brasil”, explica.

São tantas Marias, vivendo de formas tão diferentes e plurais, que em 2016 existiam mais de 11,7 milhões de Marias brasileiras. Midian escreveu essa letra pensando em “Maria” como um “ícone nacional”. Ela enfatiza que outras mulheres precisaram lutar para conquistar os direitos que temos hoje: “Uma Maria se arrastou para que alguém pudesse correr”.

Desde o bote salva-vidas até a energia solar existem “Marias”, como Maria Beasley e Maria Telkes, que protagonizaram grandes invenções. Para a cantora Midian, o propósito dessas mulheres “superpoderosas” é abrir os caminhos para a mulher “ordinária”.

Visibilidade para brasileiras comuns

Maria Clara é uma mulher comum de 20 anos que faz pré-vestibular. Ela explica que ser mulher “é ser forte, determinada e persistente”, e o dia da mulher “é um dia para a gente lembrar, mais ainda, da importância do nosso espaço na sociedade.”

Infelizmente Maria sente o peso da cobrança que muitas brasileiras enfrentam: “Eu não sou que nem a Michelle Obama, eu não sou como a Anitta, mas eu tenho minhas lutas que enfrento todos os dias”, desabafa. “Para a sociedade, que não me conhece, [essa luta] pode não significar nada, mas para mim é muita coisa”, destaca a estudante.

Nem todas as mulheres serão protagonistas de grandes feitos ou transformações sociais. Entretanto, a importância de dar destaque às vozes comuns é a representatividade. A cantora Midian sumariza bem a importância disso: “só alguém que se parece comigo pode me gerar uma real esperança.”

Temos o hábito cruel de homenagear apenas o extraordinário: a mulher que ganhou o prêmio Nobel ou aquela que enfrenta as mazelas da vida. É preciso entender que a “Maria” da música de Midian, a sofredora que criou os sete filhos sozinha, não o fez porque quis, mas por conta das circunstâncias.

Toda mulher deve ter o direito de viver uma vida comum, sem o peso da solidão, da pobreza e das expectativas colocadas sobre ela. Para que exista o sonho de alcançar o extraordinário, primeiro é necessário garantir o mínimo: a vida.

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