Maternidade, ainda que tardia

Neste dia das mães, mulheres relatam suas experiências após se tornarem mães aos 40 anos.

Rayne Sá

Ser mãe num corpo vivido e encarar a realidade de uma gravidez tardia, que segundo especialistas acontece após os 35 anos, têm se tornado algo muito comum entre mulheres que nutrem este desejo. Assim, a maternidade, que sempre pareceu natural e evidente para tantas pessoas, tem sido adiada, mas não apenas por fatores como problemas de fertilidade ou complicações de saúde, mas em alguns casos, como uma decisão de simplesmente escolher o melhor momento para engravidar.

É por isso que neste dia das mães, algumas mulheres relataram suas experiências após se tornarem mães aos 40 anos de idade.  

A decisão da gravidez tardia 

Fernanda Biondo, vive na Irlanda com o marido e os três filhos que nasceram quando ela tinha entre 35 e 40 anos. O sonho de ser mãe sempre existiu, mas devido aos planos existentes, ela deixou para realizar esse desejo quando alcançasse pelo menos uma parte dos seus projetos. “Hoje com a experiência que eu tenho, não me arrependo. Eu sei que jamais seria a mãe que eu sou hoje se tivesse tido filhos mais nova”, revela.

Fernanda conta que decidiu ter o primeiro filho aos 34 anos e, que na época tornou-se alvo de comentários negativos sobre possíveis problemas tanto para ela quanto para o bebê. “Eu sempre cuidei muito da minha saúde com exercícios e alimentação e acredito que isso me ajudou a ter três gravidezes tranquilas e saudáveis, meus dois filhos nasceram de parto normal”, conta. 

Na sua última experiência, ela estava com 39 anos e dois filhos pequenos, e em uma conversa com o marido a decisão de ter mais um filho surgiu, mas desta vez sem criar expectativas. “Pensamos que se acontecesse seria lindo e viveríamos pela última vez essa experiência, mas se não acontecesse tudo bem também”, relembra. Assim, no primeiro mês em que deixou as prevenções de lado, ela descobriu que estava grávida. 

Durante a última gestação, Fernanda relata que sentiu uma enorme diferença entre as anteriores que foram ativas. A apreensão das restrições em relação à pandemia fizeram com que ela ficasse isolada e parasse de trabalhar. “Essa questão de isolamento me deixou muito para baixo, devido a essa situação. Por um instante eu até me arrependi de ter desejado viver essa experiência, o desafio dessa gestação foi me sentir solitária (devido ao isolamento)”, comenta relembrando também sobre o fim da gestação. “Porém, tudo correu bem, eu não tive problema de saúde e minha filha nasceu de 40 semanas”, finaliza. 

Atualmente, a sua rotina com os filhos é dividida entre ela e o marido, que trabalha em home office. Como moram fora do Brasil desde o nascimento do primeiro filho, a rede de apoio acontece entre os dois, e as tarefas com as crianças se resumem entre levar eles para brincar em lugares com natureza e aplicar atividades educacionais em casa. “Na nossa rotina não existe descanso em nenhum dia da semana, ou estamos cuidando da casa, ou das crianças. E, dessa vez não sentimos ansiedade com os cuidados com a bebê, acredito que com as experiências anteriores ficamos mais seguros”, frisa. 

Das inúmeras tentativas à realização de um sonho

Diferentemente de Fernanda, Kelly tentava engravidar desde muito cedo. Mas, por possuir ovários policísticos e uma suspeita de endometriose, sempre teve dificuldades para dar seguimento na realização de seu sonho, porque embora fossem complicações que ainda a possibilitasse ter filhos, o processo poderia ser demorado ou sem êxito. “Meu marido já com 56 anos de idade, eu com 40 e sempre com a vontade de engravidar, sabe. E se eu não engravidar, eu vou ter que adotar, né?”, pensou. 

Mas os planos mudaram quando no dia 17 de junho de 2021, já sentindo algumas mudanças no seu corpo, decidiu comprar um teste de gravidez, o qual deu positivo. “Eu fiquei das mais felizes do mundo, liguei para o meu marido e contei. Ele ficou muito contente”, revela. Então, para confirmar a gravidez, Kelly recorreu ao exame de sangue, que também garantiu que ela estava esperando um bebê. “Eu fiquei muito, muito feliz, mas ao mesmo tempo fiquei nervosa também, porque eu estava esperando tanto aquilo que eu parei e pensei, ‘meu Deus, eu tô grávida”, conta. 

Após a descoberta, Kelly começou a ter algumas dores, a suspeita no início era apêndice. “Fiquei internada cinco dias em novembro, com dores, o cirurgião me acompanhou, eu fiz várias ecografias naquela semana, acho que fiz umas seis ou sete ecografias e eles não achavam o que era, se era apendicite ou não”, lembra.

Mas em uma das ecografias foi constatado que além de cistos nos ovários, Kelly possuía miomas, que naquele momento, haviam infartado causando sangramento, o que justificava as fortes dores que estava tendo. “Me deram remédio para dor e depois eu fui embora. Mas foram cinco dias que eu passei o terror da minha vida. Porque eu queria só proteger o meu filho e eu não sabia se ia ter que operar ou não. Então eu passei muito medo nessa fase”, expõe. 

Passado os momentos difíceis e de sustos, Kelly comenta que sente-se realizada após tantos anos tentando engravidar. “Hoje eu te falo que eu sou uma pessoa muito feliz, muito realizada, amo meu filho. Ele é uma criança muito saudável, querido e companheiro. Foi um sonho realizado”, finaliza. 

Um amor que não tem hora

“Ser mãe não é apenas amar incondicionalmente”, afirma Fernanda. Para ela, a maternidade trouxe sentimentos que jamais havia experimentado em toda sua vida, ‘o ser mãe é muito transformador, te leva sentir medo, insegurança, porém, ao mesmo tempo te faz ser forte e corajosa”, descreve. Da mesma forma, que ela explica que na prática, ser mãe é aprender a viver renúncias, porém ter a certeza que fez a melhor escolha. “Ser mãe é experimentar em 24 horas desde exaustão extrema, ânimo para terminar o dia”, reforça. 

Para mulheres que ainda não passaram por essa experiência, mas que desejam fortemente serem mães ainda, Fernanda aconselha que cuidem da saúde, tenham bons hábitos, e, que não tenham medo de julgamentos. “Isso sempre vai acontecer independente da idade, não descartem ter uma reserva financeira caso precisem passar por um tratamento de fertilidade, hoje em dia existe muita tecnologia sobre assunto”, declara. 

Por fim, ela acredita que com a experiência da vida, é possível olhar os desafios da maternidade com mais atenção e, principalmente, abertura para viver adaptações e mudanças que implicam nessa fase.

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