O alívio da dor pela dor

Um assunto que veio a tona no ano de 2017 foi o suicídio e a depressão, que alarmou pessoas para o assunto

Kelyse Rodrigues

O ano de 2017 foi marcado pelo assunto de depressão e o suicídio, um assunto que é tratado como tabu e muitas vezes escondido. Com a série “13 Reasons Why” que chamou atenção de muitos jovens e adolescentes que assistiram, onde a personagem principal comete o suicídio. A história é composta por vários fatores que a levam até essa decisão. Muitas das pessoas que sofrem pela angustia da depressão, ansiedade, cansaço, etc. Tem uma maneira de alívio e refugio sendo a automutilação, presente em amigos próximos, família, namorado, e é tratado como frescura e desprezo. E precisa ser tratado como um alarde, a pessoa que sofre precisa de ajuda, e ter o contato com um profissional ajudará a entender, e saber como ajudar nessa situação. A psicóloga especialista em automutilação, coaching e terapia Mariana Uchôa detalha sobre o assunto.

ABJ Notícias: O que leva às pessoas a automutilação?

Mariana Uchôa: São diversos motivos, mas estão relacionados a algum tipo de sofrimento psíquico. A pessoa que começa coma prática de automutilação em geral diz de uma dificuldade. Ela se machuca a partir de uma dificuldade de lidar com questões emocionais, questões que ela não consegue dar conta. Essas questões podem estar ligadas a diversos aspectos pode ser por uma situação traumática, relacionado a uma situação de perda, de luto; Ou uma situação de abuso, uma situação mais traumática que pode estar ligada a um sofrimento psíquico de ordem mais de interação e relacionamento social. Diz de uma dificuldade de ir ao trabalho, escola, dificuldade de se relacionar com suas questões sociais. Ou causas ligadas a sentimentos, como a ansiedade profunda, depressão, em geral são esses os motivos que levam uma pessoa a se mutilar.

ABJ: Quais os sintomas que podem indicar que uma pessoa está se automutilando?

Mariana: Existem os sinais físicos da automutilação, que você pode observar, esse é o primeiro sinal. Mas com exceção desses sinais físicos que a pessoa pode omitir, o que é muito comum, em geral as pessoas se mutilam em lugares do corpo que elas podem esconder. Então pessoas que cortam o pulso, por exemplo usam de acessórios para esconder. Muito comum às pessoas se automutilarem nas coxas, barriga. Então tem esses sintomas físicos, e sintomas que são psíquicos que estão ligados à saúde mental. Sintomas de tristeza profunda, situação de muito estresse. É comum alguns episódios que na psicologia chamamos de dissociação, perder esse contato de quem você é, quem é você, onde você está.

ABJ: Como lidar com pessoas que passam por isso?

Mariana: A pessoa que é próxima, o que ela pode fazer é tentar acolher, é muito importante ouvir a pessoa sem querer resolver o problema dela, porque ela está passando por um sofrimento psíquico. Então se demanda um auxílio profissional, e se você não é um profissional não vai resolver, então não tente resolver. E principalmente não tente diminuir os problemas ou as questões pela qual essa pessoa está passando Se ela tá sofrendo a ponto dela estar se agredindo, se automutilando, é porque aquilo é muito intenso, muito insuportável pra ela. Mais importante do que você dizer é se colocar ao lado, se colocar junto com essa pessoa. Para que ela sinta que pode contar com alguém. Em geral pessoas que se encontram nessa situação elas se sentem muito sozinhas.

ABJ: Como é a automutilação?

Mariana: A automutilação é um momento muito solitário, a pessoa fica normalmente sozinha se agredindo, não é comum pessoas praticarem a automutilação em um espaço social fazem isso sozinho, no quarto ou banheiro; num espaço reservado, banheiro do trabalho da escola; dentro da própria casa. Então é uma situação muito solitário, mais importante que dizer é se colocar ao lado, mostrar a essa pessoa que tem alguém que se importa com ela, e estará ao lado. Que tem alguém com quem contar, pra ajudar.

ABJ: Qual a primeira atitude a ser tomado ao descobrir que uma pessoa se mutila?

A primeira coisa a ser feita é se colocar junto com a pessoa e procurar uma ajuda profissional. Muitas pessoas relatam não conseguir encaminhar essa pessoa com problema para um psicólogo ou psiquiatra por não aceitar a ajuda. Então o conselho é você mesmo procurar esses profissionais (quem é mãe, irmão, amigo, a pessoa que está mais próxima) porque esse profissional vai poder te orientar de como lidar com essa situação. E vai ajudar da melhor maneira até para conseguir com que a pessoa chegue ao contato profissional. Então a primeira atitude sem dúvida é procurar a orientação profissional.

ABJ: Como convencer a pessoa de que o que ela está fazendo é errado?

Mariana: Isso é um pouco complicado, pois entra na questão de não diminuir o problema da pessoa, o sofrimento. Claro que o que ela está fazendo é errado está agredindo, usando o mal para a saúde dela. Mas em geral, claro que existem exceções, mas pessoas que tem a prática de automutilação elas reconhecem que isso é ruim. Mas mesmo que isso seja um risco à saúde, por mais estranho que isso possa parecer, às vezes falando assim pra uma pessoa que está saudável, isso muitas vezes representa um alívio pra outro tipo de sofrimento, então por isso a pessoa toma esse tipo de atitude. Mas ela faz isso porque representa algum tipo de alívio, não é uma regra geral. Mas gerar a dor física é com objetivo que a dor emocional seja ocultada, como se ficasse ali escondida enquanto se gera uma a dor física.

ABJ: Fazer com que a pessoa se ocupe com outras atividades, pode impedir com que aconteça novamente a automutilação?

Mariana: Isso é complicado até arriscado. Em geral nos sensibilizamos muito mais com uma ferida física, do que uma emocional, então situações de saúde mental são preocupantes, e a automutilação é um alarde porque a pessoa está uma situação de sofrimento psíquico mas se vê ali uma ferida física, mas ambas necessitam de cuidado. Então isso de ocupar o tempo é muito complicado, porque em alguma medida vai parecer que você quer ocupar o tempo daquela pessoa, o dia com várias atividades. Alguém que está em sofrimento psíquico sem resolver o problema psíquico é muito complicado. Muitas das vezes essa pessoa não consegue, como uma pessoa não consegue realizar atividades do trabalho se estiver mal fisicamente, também não consegue se estiver mal emocionalmente falando. Ela não vai conseguir porque não se tratou e isso vai se tornando uma “bola de neve”, então é muito complicado ocupar com outras atividades a principal ocupação que precisa ter é um cuidado, criar um plano terapêutico.

ABJ: Pode ser indício de suicídio a automutilação?

Mariana: A automutilação tem relação com o sofrimento, assim como o suicídio tem relação com o sofrimento. Então em ambos os casos são pessoas adoecidas com maneiras diferentes de parar uma dor psíquica, elas estão com essa dor e umas se automutilam e outras tentam o suicídio como forma de acabar com essa dor. A automutilação pode ser um comportamento que leva a outro comportamento que é ao ato do suicídio. São coisas diferentes, podem estar ligadas, que pode ser um indício de suicídio. Mas não necessariamente, por isso é importante ter a orientação profissional porque cada caso é um caso, não é uma situação lógica, de causa e efeito.

ABJ: Como impedir que a pessoa continue com essa prática (autimutilação)?

Mariana: Ter o tratamento adequado, com acompanhamento profissional, enfim buscar essa orientação profissional isso é o mais importante.

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