A pandemia e os desafios do home office

Trabalho em home office se torna comum e profissionais ganham uma nova rotina

Carmem Iorrana

O trabalho em casa, a partir de 2020, passou a fazer parte da rotina de inúmeros profissionais. Seja por meio do atendimento on-line ou por vídeo conferências, o home office, em função da pandemia causada pela disseminação da Covid-19, transformou o lar de muitos brasileiros e isso gerou mudanças.

De acordo com o IBGE-PNADCOVID19, em 2020, a média de trabalhos remotos alcançou cerca de 8 milhões de profissionais no Brasil. O que implicou a adaptações não só na estrutura do ambiente, mas na ampliação de novos conhecimentos na busca por cumprir reponsabilidades.

Lucianne Galvão, professora da rede pública e privada no estado de Pernambuco, declara “Desenvolvi novas habilidades, a tecnologia que já era uma mão na roda, hoje se tornou a principal ferramenta do meu trabalho”

Já para o jovem empresário da cidade de Curaçá-Ba, Alan Mariano, as adaptações em sua rede de lojas como o atendimento remoto e serviços em delivery, não foram suas maiores dificuldades,  e sim agregar mais produtos na hora da venda. “Quando o cliente faz o pedido, temos dificuldades de acrescentar algo a mais. Como eles não estão com acesso à loja física, as compras através do aplicativo  se tornaram mais específicas”.

A Universidade Federal do Paraná (UFPR), no final de 2020, por meio  de dados do IBGE-PNADCOVID19, mostra que tanto profissionais do setor público quanto do privado aumentaram a produtividade durante a pandemia.

Contudo, o impacto vai além dos números. A UFPR mostra que profissionais ampliaram suas horas trabalhadas e algumas pessoas em home office tiveram mais despesas com eletricidade e internet para conseguirem trabalhar. No caso de mulheres que são mães, o desafio é ainda maior, pois elas precisam conciliar a rotina de colaboradora de uma empresa, com a casa e a rotina dos filhos e mais as tarefas domésticas, o que acarreta um desgaste físico e emocional.

O Congresso Nacional, em fevereiro de 2021, após o aumento de ações trabalhistas por pessoas em home office, começou a discutir medidas para uma reforma na regulamentação da modalidade. No entanto, as especificações que constam na CLT a respeito do teletrabalho, no artigo 75, ainda continuam as mesmas, e não contempla  por exemplo, questões detalhadas sobre pessoas  que tem filhos e trabalham em casa.

Porém, a mudança do ambiente laboral pode trazer implicações não apenas no que diz respeito aos ajustes feitos para continuar cumprindo metas, mas, é possível gerar impacto também na saúde e bem estar. Acerca disso, profissionais da saúde fazem alerta e dão dicas, para os que fizeram de seus lares seu mais novo ambiente de trabalho.

Home office pode comprometer a saúde das pessoas  

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a má postura levou ou levará uma média de 80% da polução global a sentir dores na coluna. Dado que serve como sinal de alerta para quem precisa trabalhar em casa durante o  período pandêmico.

Em um ambiente mais descontraído e informal, é possível não se atentar às questões importantes ressaltadas pela Norma Regulamentadora de Nº18, estabelecida pelo antigo Ministério do Trabalho e Emprego, que trata sobre ergonomia. Não seguir as orientações descritas pela NR18 pode gerar danos.

O simples fato da escolha da cadeira seguindo as orientações da Norma, pode minimizar impactos à saúde. “As pessoas não imaginam o quanto que a escolha de uma cadeira ruim pode afetar a saúde. A má postura por muito tempo em uma cadeira inadequada, pode gerar sérias disfunções”, destaca a fisioterapeuta e especialista em Saúde Pública, Patrícia Paiva.

Em consonância, Simone Almeida, especialista em fisioterapia do Estilo de Vida, complementa que além da cadeira, quem se encontra em home office  deve ficar atento a altura do computador, as flexões dos músculos e não manter uma rotina na mesma posição por muito tempo. “É importante se planejar para fazer pausas e realizar alguns alongamentos”, afirma Simone.

Planejamento e adequações no trabalho em casa, ainda em 2021, são uma realidade para milhões de trabalhadores brasileiros. Respeitar as medidas de isolamento social, como uma das ações no plano de contenção da Covid-19, continuará exigindo dos profissionais e empreendedores disciplina e paciência.

Contudo, a Fundação Getúlio Vagas (FGV) e a Fundação Dom Cabral (FDC), por meio de estudos quantitativos, evidenciam que uma média de 30% das empresas – mesmo após a pandemia – devem manter algumas atividades em home office.

O ponto curioso do estudo é que, mesmo alguns colaboradores, que enfrentaram ou não dificuldades trabalhando em casa pretendem continuar usufruído do trabalho remoto, isso porquê perceberam que não são dependentes das salas convencionais de empresas para resolverem suas demandadas.

No entanto, esses mesmos colaboradores admitem que precisam redobrar sua atenção quanto as ferramentas de gestão, chats e redes sociais coorporativas, durante o trabalho em casa.

Ademais, o estudo defende que possivelmente trabalhadores brasileiros, irão alternar, de comum acordo com as empresas, suas atividades colaborativas entre o ambiente corporativo e seus lares, no período pós pandêmico. O que de maneira surpreendente, levando em consideração as questões até aqui levantadas, não será visto de maneira negativa pelas classes que aquecem o PIB do país.

Todavia, executar medidas funcionais que assegurem um ambiente salubre para os trabalhadores, quer seja nos escritórios convencionais ou nas salas de estar vestidas de office, se faz necessário e urgente, e essa é uma responsabilidade tríade, entre o governo, empresas e trabalhadores.

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