Participação do jovem na política vai além do voto eleitoral

Ocupação de cargos políticos por jovens brasileiros se mostra importante para influenciar o futuro do país.

Gabrielle Ramos Venceslau

O voto eleitoral é uma das formas dos jovens participarem da política, influenciando a realidade do país. Ainda assim, a participação não se restringe apenas à votação, uma vez que a juventude se tornou mais atuante nas manifestações populares e na internet. Por esse motivo, a inserção dessa geração em cargos políticos é uma possibilidade de aumentar a participação dela na política brasileira. 

O uso massivo da internet pelos jovens desencadeou uma maior participação deles na política nacional, principalmente pelo engajamento nas redes sociais em meio a pandemia. Contudo, a presença dos jovens vai além dos espaços virtuais. Por meio de manifestações populares, eles têm defendido os seus interesses, com passeatas, manifestos, intervenções culturais, dentre outros. 

Exemplo disso foi a onda de pequenos protestos realizados por movimentos estudantis de algumas capitais, em junho de 2013, que teve como foco barrar o aumento das tarifas de transporte público. A polícia tentou reprimir, mas não conseguiu e isso fez o movimento crescer. Outro fato importante, é que foi a primeira manifestação a ter êxito ocorrida no país após o uso das redes sociais terem ganhado força.

Apesar disto, a ocupação da juventude em cargos políticos é pouca em relação à quantidade da população jovem no Brasil e à importância da atuação desse grupo social na política. Dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral, em 2014, mostram que naquele ano os jovens somaram 6,8% dos candidatos, enquanto essa faixa etária correspondia a 50% da população, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Importância da participação jovem

A política em seu significado original remete à participação na comunidade, à vida coletiva. “Por isso, não há política sem participação”, afirma a cientista social Thicyara Macedo. “Em relação à juventude, todas as vozes precisam ser ouvidas para que a democracia seja exercida com sucesso. Assim, o jovem que participa da política não contribui somente para o processo presente, mas também para um futuro próximo, o qual irá afetar a ele mesmo e às próximas gerações”, complementa Miriã Anacleto, mestre em Ciências Sociais.

Desse modo, ao pensar na participação política jovem, é preciso saber que ela vai além do voto, uma vez que a votação eleitoral ocorre de forma esporádica, relata a mestre Miriã. Essa geração pode exercer o direito político acompanhando audiências públicas, fazendo abaixo assinados, participando de referendos e plebiscitos, fiscalizando a transparência dos órgãos públicos, por meio de movimentos sociais e passeatas, dentre outros. Além de estudar a história do país, para compreender a construção da política atual e exercer a cidadania nas pequenas e grandes escolhas, opina Thyciara. 

Outro meio que proporciona uma maior disseminação dos pontos de vista políticos é a internet, pois é de fácil acesso, não possui uma interação presencial e tem a possibilidade de expor opiniões de forma anônima. Contudo, “o advento das fakes news tem levado uma grande parte dos jovens a seguirem ideologias sem refletirem sobre”, contrapõe Thyciara Macedo. Em razão disso, é preciso ter cautela antes de disseminar informações e utilizar os meios digitais para compreender a forma como se pensa na política eleitoral, enfatiza.

A menor ocupação dos jovens em cargos públicos tem muito haver com o desinteresse pela política, diz a mestra. A herança histórica que “todo político é corrupto afasta o desejo de fazer parte”, expõe a cientista social. Porém, a relevância da participação dessa geração vem sendo reforçada em meio a sociedade, nas escolas e universidades, e incentivada pelo governo, por meio de políticas públicas da  Política Nacional de Juventude.

O jovem na política prática 

O estudante de Jornalismo Gustavo Timachi foi Vereador em Araras, São Paulo, quando tinha 17 anos, o seu mandato foi em 2021 e durou 6 meses, devido a complicações da pandemia. Para se tornar Vereador, a escola pública do município dele participou do programa que envia estudantes para a Câmara Jovem, proposta educacional que consiste na realização de uma Sessão Simulada da Câmara para os grupos participantes do projeto. Ele conta que uma eleição foi feita, na instituição que estudava, para ser escolhido o melhor candidato.

Em sua experiência como vereador, Timachi diz que trabalhava coletando as necessidades da população e passava esses dados ao poder executivo, para que as devidas providências fossem tomadas. Além disso, ajudava na elaboração de leis e projetos sociais para o seu município. Contudo, diz que nem tudo depende do esforço pessoal, pois muitas vezes “a negligência de muitos impede que você faça seu trabalho adequadamente”. 

A importância da participação da juventude desde cedo é essencial na visão do estudante. “Uma vez que a política é a forma que o cidadão comum tem de exercer algum impacto direto para o funcionamento do sistema”, afirma. Do contrário, toda a política desencadearia em um governo autoritário, uma vez que não há relevância na opinião do povo residente do determinado local com esse regime político, complementa. 

“Com programas como esse que eu participei, onde o município propõe um projeto com jovens, apenas para enfatizar o aprendizado e não remunerado” é a forma que o governo pode incentivar a maior participação dos jovens na política, opina Gustavo.

 

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