Precisamos falar sobre suicídio

Segundo dados do Centro de Valorização da Vida, 90% dos casos podem ser evitados se a vítima tiver oportunidade de conversar com alguém

Kawanna Cordeiro

Assunto cercado de tabus, o suicídio ganha espaço no mês de setembro devido à campanha denominada Setembro Amarelo. A ação tem o objetivo de conscientização sobre a prevenção do suicídio, com o objetivo direto de alertar a população a respeito da realidade do suicídio no Brasil e no mundo.

O Setembro Amarelo ocorre durante todo o mês de setembro desde 2015 por meio de identificação de locais públicos e particulares com a cor amarela e ampla divulgação de informações. O Centro de Valorização da Vida (CVV), entidade sem fins lucrativos que atua gratuitamente na prevenção do suicídio desde 1962, é uma das principais mobilizadoras da campanha.

Segundo dados do próprio CVV, 90% dos casos de suicídio podem ser evitados se o assunto for falado. “Morrem mais brasileiros vítimas de suicídio do que de AIDS, porém, é muito mais fácil se conversar abertamente sobre uso de preservativos para prevenção de DST’s do que o que pode levar uma pessoa a pensar em tirar a própria vida”, assegura o voluntário do CVV Carlos Correia. Ainda segundo o CVV, são registrados, pelo menos, 32 suicídios por dia no Brasil. “O foco preventivo estrutura uma rede social de apoio para que as pessoas em crise possam identificar precocemente a necessidade de apoio especializado em saúde mental e desta forma receber o atendimento adequadamente e com agilidade”, explica a psicóloga e terapeuta Fabíola Brandão.

Ainda existem muitos receios em se falar abertamente sobre o tema. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é necessário ter sim um cuidado ao se tocar nesse assunto. Deve-se falar sobre o assunto, porém, sem romantizar, dar detalhes ou fotos de um suicídio.

Recentemente, a plataforma Netflix produziu o seriado 13 Reasons Why, que conta a história da adolescente Hannah Baker e os motivos que a levaram a tirar a própria vida. A estreia da série, no final de março, representou de certa forma uma tentativa de quebrar esse tabu e trazer visibilidade, algo que faltava ao tema. A abordagem da série já mostra resultados: desde a estreia, o CVV registrou um aumento de 445% nas buscas de ajuda por e-mail e 170% mais acessos ao site. Atualmente, o CVV oferece apoio emocional gratuito por telefone, pelo número 188, e-mail, chat e voip 24 horas todos os dias.

A psicóloga Fabíola lembra que a pessoa que está em crise dá sinais e muitas vezes solicita apoio, e é responsabilidade das pessoas próximas saber interpretar. O simples ato de “ser ouvida e compreendida minimiza a intenção do suicídio”, afirma. Qualquer pessoa pode ajudar um amigo ou conhecido. “Se colocar à disposição para conversar sem criticar, minimizar as dores ou problemas dessa pessoa e deixá-la desabafar à vontade é uma excelente forma de prevenção do suicídio, pois, naquele momento, essa pessoa tirou aquela pressão interna e se sentiu importante para alguém.”, comenta Correia, voluntário do CVV. É recomendável sugerir que ela procure ajuda profissional após essa conversa, mas esse primeiro apoio faz diferença.

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