Renata Silveira será a primeira mulher a narrar futebol masculino na TV Globo

Transmissão de jogo da Copa do Brasil entre Ceilândia e Botafogo será comandada por narradora, no dia 20 de abril.

Gabrielle Ramos Venceslau

A TV Globo escala uma narradora mulher em transmissões de futebol masculino pela primeira vez. Renata Silveira terá sua estreia no dia 20 de abril, narrando partida da Copa do Brasil, Ceilândia x Botafogo, na TV aberta. A oportunidade abre caminhos para entrada de mais mulheres nesse ramo.

No início de fevereiro, Renata quebrou um tabu de 56 anos ao ser a primeira mulher a narrar na emissora. O jogo de futebol feminino entre Flamengo e Grêmio ocorreu no dia 9. Os times disputavam uma vaga na final da SuperCopa do Brasil. Ao lado de Renata Mendonça e Junior, ela comandou a narração da partida e abriu a transmissão comentando o feito. “Pela primeira vez uma narração feminina no canal, que honra estar ao lado de vocês”, celebrou. 

Esta ocasião foi comemorada nas redes sociais por internautas e páginas relacionadas ao esporte. “É DELA! Renata Silveira é a dona da 1ª voz feminina a narrar uma partida de futebol na TV Globo. Desejamos que ela seja a primeira de muitas narradoras a ocupar este espaço”, tweet da página Dibradoras, canal de mídia que desde 2015 apresenta o protagonismo feminino no esporte. 

Apesar de iniciar esse ano na transmissão aberta, Renata narra jogos masculinos em canais fechados do grupo Globo, como SportTV e Premiere. “Que bom que agora meninas vão ligar a TV e terem uma referência”, ressaltou Renata Mendonça, comentarista da semifinal da SuperCopa. Em entrevista à Globo, Renata Silveira também frisou a importância desses acontecimentos para jovens mulheres: “Um recado para todas as meninas: acreditem, é possível sim vocês fazerem, estarem onde quiserem estar”.

Trajetória 

A história da narração feminina começou nos anos 1960 com uma equipe, composta totalmente por mulheres, cobrindo o futebol masculino. Após três décadas, Luciana Mariano se tornou a primeira mulher a narrar na televisão brasileira, transmitindo o Campeonato Pernambucano na TV Pernambuco

A narradora Renata Silveira participou de um concurso na Rádio Globo em 2014 e venceu a competição, ganhando assim, a chance de narrar dois jogos na Copa do Mundo de 2014. Esse foi seu primeiro passo para a narração de jogos de futebol.

O Esporte Interativo e a Fox Sports lançaram programas para promover narradoras em 2018. A partir disso, Renata foi uma das selecionadas para treinamentos e testes dentro da emissora, com objetivo de narrar jogos da Copa do Mundo da Rússia e Milla Garcia foi a primeira mulher a narrar um jogo de futebol na Arena Corinthians. 

De onde veio Renata Silveira, outros nomes surgiram e ocupam narrações em diversos lugares. Em 2020, Renata chegou na Rede Globo. Estreou em 2021, narrando o jogo entre Botafogo x  Moto Club, na Copa do Brasil feminina. Também ganhou, por votação popular, a categoria de melhor narrador(a) no Prêmio Notícias da TV, disputado por nomes como Galvão Bueno e Everaldo Marques. 

Impacto da narração feminina 

O número de mulheres narrando jogos esportivos no Brasil chama atenção do público apaixonado pelo futebol. Victor Henrique Bernardo, que acompanha assiduamente o mundo dos esportes desde 2012, vê uma tendência de crescimento de narradoras, afinal, as que já existem servirão de inspiração para que outras queiram fazer o mesmo.

Muitas meninas começaram a se interessar pelo jornalismo esportivo e pelas transmissões de futebol por causa da atuação da Fátima Bernardes, jornalista e apresentadora brasileira, na cobertura da Copa do Mundo em 2002, relata o radialista com 20 anos de experiência, Marcelo Matos. “Já passou da hora que tenhamos narradoras femininas no esporte. Se hoje nós temos participação de mulheres na arbitragem, futebol feminino e repórteres; por que não narradoras?”, acrescenta. 

Apesar do aumento de narradoras, o tabu de pensar que quem assiste ou pratica esporte é menino continua enraizado na sociedade brasileira. “O preconceito nasce quando achamos que as mulheres não são capazes de realizar aquilo que os homens dentro do esporte realizam”, explica Thalita Karen França, acompanhadora de futebol e apoiadora da igualdade de direito das mulheres. Além disso, muitos questionam a qualidade da narração feita por mulheres, afirmando que isso não é coisa de mulher, complementa a torcedora.

Para fazer narrações de futebol ou de qualquer outro esporte é preciso ter um conhecimento básico sobre as regras e jogadores, isso garante a qualidade narrativa e uma melhor interação com os comentaristas e repórteres de campo no momento da transmissão. “Além disso, a voz também é importante, pois exige técnica e bom ritmo de respiração ao narrar jogos”, afirma Marcelo Matos.

Por isso, a abertura de oportunidades para que as mulheres passem pelos mesmos treinamentos e testes realizados pelos homens começou a ser realizada por muitas emissoras. A maioria dos narradores, independente do gênero, começam a narrar em canais fechados até atingir a qualidade necessária para narrações em TV aberta. A Globo observou e incentivou por algum tempo o desenvolvimento de profissionais como Renata Silveira. “Esse é o caminho para conciliar a colocação das mulheres no mercado e a manutenção da qualidade”, afirma Victor.

Esse incentivo deve ser feito não somente para as narrações em TV aberta, mas para rádio também. Além de continuar repetindo essa experiência em outras coberturas, como em olimpíadas e copas. Isso pode gerar algumas críticas, mas é algo que as pessoas irão se acostumar com o tempo, na visão do radialista. 

Segundo Thalita Karen, a presença feminina em narrações e em outros âmbitos do esporte como referência para meninas e mulheres é muito importante, pois quando existem mulheres em algo que só o homem é valorizado, se torna um incentivo para aquelas que sonham fazer a mesma coisa, mas por não se sentirem representadas, acabam por desistir. “Por esta razão, Renata Silveira é inspiração, afinal, lugar de mulher é onde ela quiser e desejar”, finaliza.

Foto: Reprodução/Instagram

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