Seis anos de impunidade: Mulheres cobram justiça em Brumadinho e Mariana

In Geral

Mulheres se unem a lutas sociais em prol do Estado de Minas Gerais.

Fernanda Reis

O rompimento das barragens de Brumadinho e Mariana completa seis anos em 2021, e mulheres questionam as relações afetivas, sociais, de pertencimento e empregabilidade perdidas na tragédia.

No primeiro semestre deste ano, foi selado um acordo pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais com a VALE no total de 37 bilhões de reais em repasse para reparação das famílias, obras de infraestrutura e socioambiental no prazo de 10 anos no estado mineiro. No entanto, até o momento o que tem inquietado os moradores é o projeto da  construção de um Rodoanel Metropolitano, previsto para o início em Março de 2023 com prazo de término para 2028, que visa desafogar o tráfego de áreas urbanas e impulsionar o desenvolvimento econômico.

O que seria uma obra para favorecer a população não tem sido bem vista no estado mineiro. “O rodoanel nada mais é do que um favorecimento das mineradoras, principalmente a Vale, que não tem nada para beneficiar o povo”, afirma Lilian, moradora de Contagem. A mineira percorre todos os dias 43 km até Brumadinho, cerca de 30 a 40 minutos para chegar ao trabalho, pois a cidade ainda se encontra com dificuldades de locomoção. 

Sobre a saída dada pelo governo, ela afirma: “O rodoanel vai trazer consequências imprevisíveis ao meio ambiente e ao povo, por onde ele passar. Sempre o povo pobre perde. Os ricos e os grandes empreendimentos ganham.”

Hoje a antiga moradora de Brumadinho escolheu ficar perto dos filhos, pois “a situação do município é complicada. A sensação é que o município pertence à Vale e ao Executivo Municipal. Inconformada com o descaso do governo com a população local, Lilian diz queDepois do rompimento e com a pandemia, o poder público local vai se esquivando de fazer concursos há décadas. Manda e desmanda, e são coniventes com a Vale”, ressalta. 

As mulheres em Minas Gerais são as grandes responsáveis pelas famílias, tomando  a frente das lutas, da proteção aos filhos, e  atuam também na pesca com os demais familiares  como forma de subsistência.

A cidade de Baixo Guandu, no Espírito Santo, também afetada pela tragédia, ainda encontra-se sem o ressarcimento da empresa. A Vale ficou de repassar entre 23 e 94 mil reais aos atingidos que dependiam da pesca para sobreviver. “Nossa assessoria técnica ainda está no papel, ainda estamos à   mercê do sistema judiciário. Esse acordo foi firmado sem participação ativa dos atingidos, ainda não foi traduzido para nós”, afirma a pescadora Regiane Soares.

No município, a pesca já está liberada, no entanto os peixes estão sendo comercializados contaminados e a mineradora patrocina as análises da água do rio Doce e tem afirmado que já está própria para o consumo humano, mas os pescadores garantem que não está.

Mulheres na linha de frente

Diante da situação, Lilian e Regiane têm buscado refúgio no MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) que funciona  como um suporte às mulheres, vítimas dentro da reprodução do modelo capitalista, patriarcal e machista. Conforme o MAB, nesse caso específico de mulheres atingidas por barragens, tem-se um agravante: o fato das desigualdades de classe e nas relações de gênero.

Regiane, atuou por um  ano e meio em Brumadinho com o movimento. “O MAB foi que nos abriu os olhos sobre o que éramos atingida”, afirma. 

Uma das conquistas foi a garantia da igualdade das mulheres em Brumadinho, pois o recebimento do auxílio financeiro emergencial foi dado por núcleo familiar. O cartão era em posse do chefe da família, no caso, o homem. As mulheres tinham direito a 20% de um salário mínimo que era entregue ao companheiro.

Com intuito de dialogar, traçar estratégias e compartilhar experiências, o MAB tem organizado reuniões com mulheres usando a técnica da Arpillagem que denuncia a violência através do bordado. “As mulheres sentem necessidade de tecer a própria história. Essa é a dinâmica. Enquanto tecem, tecem também através das reuniões, das discussões, a sua luta como atingidas”, confirma Lilian.

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