Verdade seja dita

Avante por verdade e justiça

Victória Coelho

Um dia não muito distante. Para ser mais precisa, ontem, 1º de abril, para os mais íntimos, dia da mentira. O dia é “comemorado” por muitos há tempos. Na época que começou, uma das mentiras que tornou a data conhecida foi a morte de Dom Pedro, que na verdade era uma mentira temporária revelada no dia seguinte como nada mais que uma “pegadinha do malandro”. De lá pra cá, a tradição continua. Tia grávida, casamento marcado, pedido de namoro e até demissão para os que trabalham com o nível hard do negócio. A questão é que esse dia passou, acordamos e percebemos que o mundo sobreviveu sem nossa atenção às redes sociais durante algumas horas de sono. Primeiro de abril se foi. É dia 2, sendo assim: verdade seja dita.

O cursor do teclado parece me cobrar pela continuação desse texto que por sinal, é mais uma das tantas tarefas que tenho nesse dia que precisava ter mais que 24 horas. O tempo passa e a gente vai junto. Correndo, tentando agradar a todos, desenvolver todas as funções do globo e só “parar” quando a nossa quilométrica lista de atribuições estiver completamente checada. Queremos abraçar o mundo, mas nosso braço é pequeno.

E o mundo é tão mais que nossa to do list, pelo menos deveria ser. Marielle e Anderson morreram faz 19 dias. Quem matou? Matou por quê? Nossa vida é mais exposta que a gente imagina e talvez quando o Facebook pergunta No que você está pensado, ele já sabe muito. Sabe até que você assistiu O Mecanismo porque todo mundo viu, ou simplesmente porque você queria ver.

No que você está pensando, talvez ninguém saiba, mas eu queria muito que você, caro leitor, pensasse mais em você. Não de forma egoísta, mas da maneira como deve ser. Porque quando a gente pensa no outro, e se coloca no lugar dele quando ninguém está vendo, nem curtindo ou compartilhando, estamos inevitavelmente pensando em nós.

Quando entendemos que toda dor é por enquanto, a vida começa a ser de verdade. E o dia da mentira é só mais um dia de uma vida que vale a pena ser vivida por ela mesma. Quando o bombardeio de escândalos, discursos de ódio, intolerância nos afeta não como uma brincadeira de 1º de abril, que no outro dia vai estar tudo está certo. Mas nos incomoda ao ponto de escrevermos, cantarmos, manifestarmos e até gritarmos por justiça, por amor.

Ontem, no dia da mentira, celebramos a páscoa que traz consigo a renovação como marco. Que a nossa vida, seja um mar de renovações e verdades ditas. Que não nos falte coragem para dizer verdades e lutar por elas com empatia e equidade. No entanto, que não nos falte senso de humor para as mentiras contadas como verdades. Afinal, ano que vem tem dia 1º de abril de novo, bem como dia 2, sendo assim, avante!

 

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