Crescimento demonstra a natureza viciante dos jogos.
Eduardo Reymond
O mercado de apostas online está em expansão no Brasil. Desde 2019, houve aumento de 281% no consumo. Somente entre junho de 2023 e 2024, os brasileiros gastaram R$68,2 bilhões em apostas online, excluindo os valores recebidos por apostas vitoriosas, segundo levantamento feito pelo Banco do Itaú. Este valor representa 0,2% do PIB brasileiro e 1,9% da massa salarial, destacando números crescentes deste setor na economia nacional.
Desde a legalização das apostas online em 2018, o setor tem atraído investimentos e consumo, com a promessa de ganho financeiro através especulações e análise técnica ou sorte. No entanto, a regulamentação só foi aprovada em dezembro de 2023, e a partir de janeiro de 2025, empresas precisarão de autorização do Ministério da Fazenda para operar no Brasil. Atualmente, este mercado é dominado por plataformas internacionais.
Riscos financeiros
O gasto líquido nas apostas é de R$24 bilhões, um valor semelhante ao valor gasto em taxas de serviço. Já o saldo de prêmios pagos aos apostadores, entretanto, registrou uma entrada líquida de aproximadamente R$200 milhões. Analisticamente, a baixa porcentagem de prêmios pagos em relação ao valor apostado indica desvantagens econômicas para os apostadores.
Brendon Gonçalves, ex-apostador em casinos online, relata que ao perceber que sua situação financeira era irreversível, decidiu buscar apoio familiar para quitar as dívidas e sair desse ciclo vicioso. “Me envolvi com agiotas para conseguir mais dinheiro e sustentar as apostas. Achei que poderia compensar o dinheiro perdido com os jogos”, conta.
Fellype Macedo, especialista em investimentos, destaca que a probabilidade de lucro para apostadores é extremamente baixa, já que o valor destinado a prêmios pelas casas de apostas raramente ultrapassa 10% do total apostado. Além disso, pela falta de regulamentação, existe ainda a possibilidade de fraudes, especialmente com o aumento do número de plataformas não regulamentadas.
Entre 2015 e 2023, o número de apostadores da geração Z aumentou significativamente, e muitos procuram tratamento com altos níveis de endividamento. De acordo com pesquisas da sociedade brasileira de varejo e consumo (SBVC), os apostadores deixam até mesmo de comprar produtos no supermercado, roupas e medicamentos para pagar as dívidas e alimentar o vício.
Vício das apostas
O crescimento das apostas trouxe indícios de riscos associados ao vício. De acordo com pesquisas SBVC, a dependência e o desenvolvimento de comportamentos compulsivos estão entre os principais perigos para os apostadores. Com a perda de controle financeiro, os apelos de ganhos se tornam mais fortes quando associados às apostas.
Segundo o psiquiatra Rafael Freire, essa dependência comportamental é análoga a uma dependência química. “Os estímulos cerebrais gerados pelos jogos de azar são comparáveis aos de substâncias químicas viciantes”, afirma o doutor.
Isso acontece porque o interesse vai aumentando até um ponto no qual o indivíduo se vê preso às apostas. Nesses casos, a ajuda profissional de psicoterapeutas e redes de apoio são essenciais.
Outro aspecto crucial é a publicidade, que frequentemente promove esses jogos como oportunidades de investimento. A recente regulamentação das apostas online, que estabelece regras específicas sobre prêmios e transparência, visa amenizar esses problemas. Entretanto, a fiscalização eficaz continua sendo um desafio.
Com a regulamentação ainda em fase de implementação, a tendência é que as apostas sigam em crescimento.