Mulheres 50+: desafios no mercado de trabalho

In Economia, Geral

Fatores como preconceito, desatualização e falta de oportunidades são as causas para não conseguir emprego.

Julia Viana

No Brasil, mulheres com mais de 50 anos enfrentam uma jornada de desafios no mercado de trabalho. Entre as principais dificuldades relatadas estão o preconceito etário e a visão ultrapassada de que essas mulheres não são capazes de acompanhar as demandas tecnológicas e dinâmicas do ambiente profissional atual.

Um estudo realizado pela agência BR Rating, que entrevistou cerca de 500 empresas nacionais e multinacionais, revelou que apenas 3,5% das organizações contam com líderes mulheres nessa faixa etária. Além disso, apenas 16% das mulheres ocupam cargos de diretoria, e 19% estão presentes em posições de gerência. Esses números refletem a desigualdade persistente nas oportunidades de liderança para essa mulheres.

Marluci Sandra Costa Ferreira, que têm esta faixa etária, compartilha as barreiras e os estigmas que tem enfrentado. A sua história é um reflexo das dificuldades de muitas mulheres 50+ que buscam recolocação e valorização em um mercado de trabalho que muitas vezes prefere a juventude à experiência.

A experiência é valorizada

Para Marluci, embora o mercado reconheça o valor da experiência, isso ocorre de forma limitada. Segundo ela, mulheres nessa faixa etária precisam “provar” constantemente que suas habilidades são relevantes e úteis para as empresas. “Somos passadas por um crivo, um tipo de teste para provar se o que sabemos faz sentido para a empresa”, afirma.

“Não somos valorizadas inicialmente, mas, quando mostramos nosso potencial, nossa experiência passa a ser considerada”, relata Marluci. Esse processo de avaliação prolongado e detalhado, que muitas vezes leva a uma desvalorização inicial, é um entrave que prejudica a confiança e desestimula as mulheres a participarem de processos seletivos.

Discriminação por idade e gênero

Segundo Marluci, o etarismo, combinado com o machismo, é uma das maiores barreiras enfrentadas por mulheres com mais de 50 anos. Ela menciona que frequentemente são questionadas quanto à produtividade e adaptabilidade, com uma percepção de que não acompanham as novas tecnologias ou o ritmo de trabalho de profissionais mais jovens. 

“A questão das vagas voltadas para jovens é um requisito velado. Dizem que não atendemos ao perfil da vaga, como se o jovem fosse sempre mais adequado ao crescimento da empresa”, explica Marluci. Esse preconceito impede que muitas mulheres avancem nos processos seletivos ou consigam, sequer, uma oportunidade para demonstrar suas qualificações.

Valeska Petek, mentora de carreira e ex-recrutadora, concorda com Marluci e comenta sobre a dificuldade que mulheres 50+ encontram devido aos “vieses inconscientes” presentes nos processos seletivos. “Infelizmente, há uma visão que prejudica essas mulheres, tanto por preconceitos ligados à idade quanto ao gênero”, afirma. 

Ela observa que muitas empresas ainda têm a percepção de que profissionais mais velhos são menos dinâmicos ou menos atualizados em relação a ferramentas tecnológicas, uma visão que considera injusta e baseada em estereótipos.

Situações de preconceito

Marluci também compartilha exemplos pessoais de preconceito. Ao ingressar na universidade, foi ignorada pelos colegas mais jovens até que suas notas e trabalhos demonstrassem sua capacidade. 

No trabalho, também ouviu comentários de que “não daria conta” ou que “desistiria no começo”, algo que reflete o estigma de que mulheres mais velhas não têm a mesma resiliência que jovens no ambiente profissional. Essa visão, segundo Marluci, só muda depois que elas provam seu valor, o que demanda tempo e paciência.

Capacidade de adaptação

A resistência das empresas em oferecer oportunidades para mulheres com mais de 50 anos também é um obstáculo. Para Marluci, os treinamentos oferecidos pelas empresas geralmente são voltados ao público jovem, o que impede a sua participação e desenvolvimento. “Já ouvi em processos seletivos, se não tiver curso de informática nem precisa ficar. É como se a empresa assumisse que mulheres da minha idade não conseguiriam adquirir um novo conhecimento”, conta.

Valeska destaca que a subestimação da capacidade de aprendizado de mulheres mais velhas é uma prática infundada. Ela defende que todos os candidatos devem ser avaliados individualmente, observando suas qualificações e histórias de vida. 

“Seria absurdo supor que todos os jovens têm o mesmo conhecimento e dinamismo. O ideal é focar no perfil adequado para o cargo, sem preconceitos de gênero ou idade”, comenta Valeska, ressaltando que muitas vezes profissionais mais velhos dominam tecnologias específicas que os jovens ainda não conhecem.

Mudanças

Para mulheres que enfrentam dificuldades em processos seletivos, Valeska sugere a construção de uma narrativa voltada para as demandas do cargo. “Ao removermos os vieses inconscientes, podemos olhar para o cargo e não para o gênero ou idade. Uma profissional 50+ pode aumentar suas chances de contratação ao alinhar suas experiências diretamente às necessidades da vaga”, aconselha. Segundo ela, quanto mais específico o direcionamento durante o processo seletivo, maiores as chances de êxito.

Marluci recomenda a busca por atualização constante em áreas tecnológicas e digitais. “Comece com cursos básicos, depois vá para os mais avançados, como Excel e Power BI. A  tecnologia está estranha, mas nada que não possamos aprender”, incentiva. Além disso, sugere a realização de estágios e pós-graduações, que são formas de adaptação e compreensão das mudanças no mercado.

Para Valeska, a solução para as empresas que desejam promover a inclusão etária envolve duas frentes: pessoas e processos. Ela acredita que treinamentos de conscientização são fundamentais para ajudar os recrutadores e gestores a enxergarem seus vieses inconscientes e evitarem estereótipos sobre candidatas 50+. 

“A inclusão etária reflete a diversidade da nossa sociedade. Como existem muitas mulheres 50+ em nossa população, é natural que isso também se reflita no ambiente organizacional”, defende Valeska. Políticas que promovam a diversidade são fundamentais para que empresas possam utilizar de forma estratégica a experiência e maturidade das mulheres mais velhas.

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