Demissão silenciosa: o conceito e a relação com o burnout

In Economia, Geral

O termo que viralizou na internet agora virou pauta. Mas a questão é: mudar o ritmo no trabalho e estabelecer limites, é comprometedor?

Camylla Silva

Você já deve ter ouvido falar do termo “demissão silenciosa” ou pelo menos a hashtag nas redes sociais. A expressão “Quiet quitting”, originalmente em inglês, ficou muito conhecida na internet após um engenheiro chamado Zaid K, de Nova York, ter recebido mais de 3,4 milhões de visualizações em seu vídeo sobre o assunto. 

Não se sabe ao certo o responsável pela criação do termo. Mas a tendência teve origem nos Estados Unidos, em meio a um movimento chamado “The Great Resignation” ou “A Grande Renúncia”, em que os jovens se reuniram para compartilhar suas demissões de emprego nas redes sociais. Embora a expressão esteja assumindo vários sentidos, ela está sendo mais usada para caracterizar profissionais que defendem estabelecer limites bem definidos entre trabalho e vida social, sem fazer mais ou menos do que é combinado dentro da sua função. 

Esse fenômeno ocorre em vários países do mundo. Entre eles, o Reino Unido, que registrou um aumento acentuado no número de pessoas que se demitiram em 2021. Além disso, um quinto dos trabalhadores pretendem abandonar o emprego no próximo ano, na procura de um bom salário e maior satisfação profissional.

No Brasil 

O Brasil registrou neste ano, um recorde no número de pessoas que abandonaram seus empregos. De acordo com o levantamento feito pela LCA Consultores, foram 6,175 milhões pedidos de demissão nos últimos 12 meses, até maio. Desses, um a cada três desligamentos foram pedidos pelo trabalhador. 

Em entrevista ao Canaltech, o advogado Marcel Zangiácomo, da área trabalhista, esclareceu o que a legislação brasileira tem a dizer sobre esse assunto. Para Marcel, há alguns artigos na legislação que estabelecem as regras do contrato de trabalho, entre elas da função exercida, do acúmulo ou desvio de função, dispensa por justa causa, entre outros. Os artigos regram as relações trabalhistas entre o funcionário e empregador, com o “denominado poder protestativo do empregador que estabelece a submissão dos empregados às regras do empregador”. Contudo, a Lei Trabalhista também determina direitos que protegem o funcionário de importunação e assédio moral fora do horário de trabalho. 

O Quiet Quitting pode levar à demissão?

De acordo com Emerson Dias, consultor de carreiras, a percepção de trabalhar a mais é muito relativa, mas o funcionário pode ser demitido, se as percepções forem muito distintas. “Se a empresa exige da pessoa algo a mais e a pessoa não dá, é óbvio que a liderança pode demitir”, alerta. “Mas isso é muito difícil de lidar porque eu posso fazer algo a mais que pra mim é muito grande e pra quem está me avaliando não”, acrescenta.

Equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal

Segundo estudos, a dificuldade para atingir o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal está ligada ao excesso de trabalho. Uma pesquisa feita em 2021 com trabalhadores do Reino Unido, pelo site de avaliações de empreendedores Glassdoor, revelou que mais da metade das pessoas entrevistadas achava que faltava equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal.

Problemas percebidos no trabalho, como não conseguir uma oportunidade ou reconhecimento pelas atividades realizadas, comparações, sobrecarga e outros, podem ser internalizados como falhas pessoais. Isso pode aumentar a ansiedade e fazer com que a pessoa diminua o desempenho. Mas muitas vezes as pessoas se sentem confortáveis trabalhando mais, o que pode intensificar ainda mais o ciclo vicioso de excesso de trabalho, indisposição e baixa autoestima. Com a rotina desgastante devido ao trabalho excessivo, a exaustão vem. Todo esse processo pode resultar em burnout. 

Os riscos do Burnout

A Síndrome de Burnout é definida como o esgotamento mental e físico ligado ao trabalho. É como se o cérebro (e o corpo), chegasse ao ápice do cansaço e não conseguisse mais funcionar.

A Organização Mundial da Saúde, reconheceu em 2019, que a síndrome deveria ser considerada um fenômeno ocupacional. Segundo a entidade, esse termo não deve ser empregado em outras áreas da vida. Sendo assim, a empresa passa a ser mais responsável pela saúde e bem estar dos seus funcionários.

O burnout, é um grande risco do excesso de trabalho e pode provocar impactos de longo prazo na saúde física, emocional e mental. Dias aconselha que é preciso ter mais elementos na agenda além do trabalho, para que possa dividir a carga. “É importante ter hora de lazer, e horas espirituais. Mas isso não tem nada haver com religião – embora eu saiba que para algumas pessoas tenha“, ressalta. “Mas fazendo atividades físicas, encontros inesperados (fazer coisas que você usualmente não faz), que quebram a atenção do trabalho”, finaliza.

Relação de trabalho 

É um fato que quando estamos de bem com a vida tudo que fazemos sai bem. Um estudo realizado pela Universidade da Califórnia, deixou isso mais evidente. Trabalhadores mais felizes são 31% mais produtivos, segundo a pesquisa, três vezes mais criativos e vendem 37% a mais que os outros. Além disso, o funcionário disposto e engajado pode trazer mais benefícios e resultados para a empresa.

A gerente administrativa, Vânia Rockenbach, diz que é importante ter um vínculo saudável com o funcionário. Ela acredita que oferecer acompanhamento psicológico é uma boa forma de valorizá-lo. “Sempre tentamos ser transparentes com cada um deles para manter uma boa relação pessoal e profissional no ambiente de trabalho”, ressalta. Ter conscientização e incentivar o funcionário a ter equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, mostra como eles devem se valorizar; o que leva a empresa a ter um bom desempenho com trabalhadores engajados, produtivos e leais.

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