Etarismo: o desprezo contra os mais sábios

In Cultura, Geral

Segundo a OMS, uma em cada duas pessoas têm preconceito contra os mais velhos.

Ana Beatriz Toyota

Etarismo ou ageísmo. Esse é o nome dado ao tipo de preconceito contra pessoas devido à sua idade, ou seja, esse tipo de discriminação pode acontecer com pessoas mais novas, ou mais velhas. No entanto, é muito mais comum com pessoas com idade mais avançada.

De acordo com um estudo realizado em Michigan, 80% das pessoas acima dos 50 anos já experimentaram algum tipo de desprezo por parte de gerações mais novas, trazendo segregação em ambientes sociais e profissionais. 

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que quase 15% da população brasileira é idosa. Com os avanços tecnológicos e a popularização de uma vida cada vez mais saudável, a expectativa de vida do brasileiro tem aumentado de maneira significativa, fazendo com que a marca apenas cresça. No entanto, apesar do aumento da longevidade nos últimos anos, essa porcentagem ainda sofre preconceito.  

Problema atual

No Brasil, um vídeo que repercutiu nas redes sociais no início do ano, revisitou a pauta do etarismo. Nele, estudantes do curso de biomedicina de uma universidade particular de Bauru (SP), debocham de uma colega de 40 anos. No vídeo, uma das estudantes ironiza, “Gente, quiz do dia: como ‘desmatricula’ uma colega de sala?”, a outra jovem responde, “Mano, ela tem 40 anos. Já era pra estar aposentada”. 

Esse tipo de episódio não acontece apenas em universidades. O ambiente de trabalho também é palco de etarismo, de acordo com uma pesquisa realizada pela empresa Ernst & Young e a agência Maturi, as companhias entrevistadas possuíam, no total, apenas 6% do seu quadro de trabalhadores sendo pessoas maiores de 50 anos. 

O psicólogo Nícolas Novaes explica por qual razão a geração mais nova tende a desprezar a mais velha. “É um conflito geracional. Na maioria das vezes não existe um vínculo afetivo satisfatório entre essas pessoas mais novas e os idosos, e isso por si só é suficiente para gerar um certo desinteresse da parte deles [pessoas mais novas] em interagir ou manter uma relação amistosa com o público da terceira idade”, explica.

O profissional afirma que o desprezo pode vir até mesmo pelo desinteresse das gerações e a falta de assuntos em comum. Os estilos de vida e opiniões diferentes também dividem gerações, e que muitas vezes causam o isolamento de pessoas mais velhas. Sobre isso, Nícolas afirma que “é muito comum ver na prática clínica da profissão idosos, em sua maioria viúvos, que moram sozinhos, e pela falta de companhia acabam desenvolvendo um quadro depressivo.”

Tentativa de alcançar soluções

Em decorrência dos episódios de etarismo e diversas pesquisas apontando o problema, países como Austrália e Estados Unidos recorreram a alternativas para alcançar soluções. Um dos programas que alcançou resultados positivos foi o “Changing the narrative”, lançado no estado do Colorado pelos norte-americanos.

Entre os participantes do projeto, 94% declararam que aumentaram o conhecimento sobre o etarismo, 95% relataram que se sentiam mais preparados para identificar e intervir diante de uma situação de preconceito e 92% estavam dispostos a colocar em prática o que haviam aprendido.

Ao contrário do que se pensa, o etarismo é um problema que, aos poucos, pode ser combatido, assim como visto em outros países. Nem todos os idosos que vão à universidade sofrem preconceito. Cícero Laurindo começou seu curso de Direito na terceira idade e relata que se divertia com as amizades mais novas e se sentia respeitado nesse meio.

Cícero incentiva outros da sua idade a fazerem o mesmo. “A gente não tem idade quando o assunto é alcançar nossos objetivos e, principalmente, para adquirirmos conhecimento. Eu fui convidado para ser professor universitário na faculdade onde estudo. Inclusive, ganhei até uma bolsa. Se eu ia ou não ia, era outra questão. A verdade é essa: a gente não tem idade para ser feliz”, finaliza.

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