MBTI: uma alternativa para alcançar o autoconhecimento

In Cultura, Geral

Criado 20 anos antes da Segunda Guerra Mundial, o teste continua alcançando multidões e levando autoconhecimento para pessoas de diferentes níveis da sociedade.

Ana Júlia Alem

O MBTI, Myers-Briggs Type Indicator (“Classificação Tipológica de Myers-Briggs”, em português), é um dos testes de personalidade mais conhecidos nos dias de hoje. Durante o teste, são submetidas diversas questões à pessoa e, depois de respondidas, são analisadas para gerar um resultado que mostra sua personalidade e características pessoais.

De acordo com a plataforma Growjo, uma empresa estadunidense que rastreia empresas e startups que mais crescem no mundo, a Myers-Briggs Company, dona dos direitos do teste, aplica, anualmente, a avaliação oficial em cerca de 2 milhões de estudantes, funcionários e candidatos à vagas de emprego, tendo como faturamento cerca de U$50 milhões.

Anelise Ferreira, estudante de Publicidade e Propaganda, tem 18 anos e acredita fielmente no instrumento MBTI. Para ela, o teste, quando respondido com sinceridade, é capaz de mostrar a personalidade compatível com cada pessoa.

“Quando fiz o meu, percebi que o teste me decifrou, eu me vi ali. Após ter realizado o indicador, procurei saber mais sobre o assunto, acabei me interessando muito pela área e passei a acreditar na teoria. Pode parecer engraçado, mas antes dos meus amigos realizarem o MBTI, eu tento decifrar a personalidade de cada um, posso dizer que acertei muitas vezes”, comenta Anelise.

Em contrapartida, há quem não acredite na veracidade do teste, como Henrique Lorentz, estudante de Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que diz não se identificar com o teste. “Já fiz o teste diversas vezes e em cada uma delas obtive um resultado diferente”, completa.

A idealização do programa

As idealizadoras do indicador foram Katherine Cook Briggs, nascida em 1875, e sua filha Isabel Briggs Meyers. As duas tinham muito interesse pela área pedagógica e psicológica, e após estudarem e refletirem sobre o livro “Tipos Psicológicos”, publicado em 1921 por Carl Jung, utilizaram o livro como base para criar o teste MBTI.

Durante duas décadas depois da criação do método avaliativo, Katherine e Isabel buscaram tornar o teste cada vez mais objetivo e preciso. Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, as criadoras passaram a usar o método para definir quais eram os cargos de trabalho mais compatíveis para cada uma das pessoas, especialmente mulheres.

Com o tempo, o indicador se popularizou e em 1977 passou a ser publicado pela Consulting Psychologists Press (CPP), que atualmente é chamada de Myers-Briggs Company. Hoje em dia, a empresa vende os direitos para outras empresas ao redor do mundo, tais como: a Fellipelli, uma empresa brasileira que aplica o teste desde os anos 1990. 

“Atualmente, o MBTI é utilizado para aprofundar o autoconhecimento, aumentar a capacidade de liderança, identificar novas oportunidades de carreira, montar equipes de trabalho mais produtivas, prevenir e administrar conflitos e muitas outras funcionalidades”, explica a psicóloga especializada em Neuropsicologia e Terapia Cognitiva-Comportamental pela Universidade de São Paulo (USP), Elisabete Paoletti.

Como funciona o indicador MBTI?

A empresa brasileira aplica duas versões de teste: a M possui 93 questões, mas apresenta um resultado mais básico, já a edição mais longa, chamada de Q, conta com 144 questões e gera um resultado mais detalhado e concreto. Independentemente da edição escolhida, o MBTI classifica as pessoas por quatro eixos, que resultam na sigla que representa a personalidade do indivíduo.

O primeiro é a introversão e extroversão, representadas pelas letras “I” e “E”, respectivamente. De acordo com a Myers-Briggs, os extrovertidos são pessoas que se atraem por interações com outras pessoas e os introvertidos, são aqueles que buscam estar mais isolados e se cansam de interações sociais facilmente.

O segundo eixo é definido pelas palavras sensação (S) e intuição (N). Os sensíveis são caracterizados por terem pensamentos baseados na realidade, sempre buscando a praticidade. Em contrapartida, os intuitivos preferem teorias, questões existenciais e adotam visões panorâmicas, porém sem deixar de lado informações concretas em prol da imaginação. 

A terceira fase analisa a forma como o indivíduo toma decisões. Aqueles que se deixam levar pelos sentimentos se encaixam na categoria de mesmo nome (F, de feeling), os que buscam à racionalidade, entram na de pensamento (T, de thinking).

Na última fase, o teste analisa a maneira de levar a vida do indivíduo. Existem mais duas categorias: o julgamento (J), pessoas regradas e planejadas e a percepção (P), aqueles que gostam do improviso e se incomodam com rotinas.

Depois de respondido e analisado, o teste apresenta os resultados, que podem variar entre os 16 existentes. Alguns deles são:

  • INTJ (arquiteto): caracterizados por serem pensadores e estratégicos;
  • ENFP (ativista): possuem espíritos livres, criativos, sociáveis e entusiasmáticos;
  • ESTJ (executivo): excelentes administradores;
  • ESFP (animador): animadores entusiasmados, enérgicos e espontâneos.

Benefícios, defeitos e validação do indicador

Em seu site, a empresa brasileira que aplica o teste, afirma que o MBTI fornece apoio ao conhecimento, identifica tendências de comportamento, oferece subsídios para lidar com situações estressantes, enfatiza o valor da diversidade de características pessoais, facilita o aumento de interação interpessoais e facilita a identificação de características de liderança.

“Esses testes se baseiam na ideia de que a personalidade é uma essência imutável que não sofre alterações com o tempo. A utilização desses rótulos pode trazer prejuízos para as relações interpessoais, uma vez que as pessoas tendem a utilizá-los para justificar suas ações, atrapalhando assim, o desenvolvimento em diferentes áreas da vida”, informa a psicóloga.

Para Elisabete, a especificação de personalidade não é o que define alguém, tudo ao seu redor contribui para que ele seja quem é, desde o ambiente em que vive até suas experiências de vida. Ela afirma que o teste é apenas um indicador, não um diagnóstico.

A terapeuta finaliza dizendo que não se deve utilizar o instrumento como meio de rotular pessoas, criar estereótipos, definir caráter, prever sucesso e avaliar ou definir potencial.

Apesar de não possuir consenso acadêmico de que o indicador contém bases científicas e pilares empíricos, o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (Satepsi), responsável por avaliar a qualidade técnico-científica de instrumentos psicológicos, aprovou o MBTI em 2013, mesmo o tendo reprovado o sistema cinco anos antes.

Alternativa mais empírica

De acordo com a psicóloga especializada em Neuropsicologia, Danielle Farias, a personalidade não pode ser classificada em tipos, como os testes normalmente fazem. Por isso, ela aconselha a utilização do Big Five como alternativa, já que ele possui pilares empíricos sólidos.

“Ao contrário de outros testes de personalidade que identificam os indivíduos em categorias binárias, introvertidos e extrovertidos, o Big Five afirma que cada personalidade é um espectro e possui muitas variantes. Por exemplo, o indivíduo é classificado em uma escala entre duas extremidades, ao medir a introversão, ao invés de ser definida como extrovertida ou introvertida, a pessoa é colocada em uma escala que apresenta o seu nível do mesmo. Acredito que com esse método, fica mais fácil medir com eficiência a personalidade de alguém”, declara Danielle.

Rebeca Miranda, é desde pequena, apaixonada por assuntos de personalidade e sempre procurou entender mais sobre si mesma. Então, durante toda sua adolescência, fez diferentes testes de personalidade buscando o autoconhecimento. Hoje, no auge de seus 25 anos, entende que esses testes não definem quem ela é. Ela percebeu que é capaz de ser quem quiser ser e realizar tudo aquilo que deseja, independentemente de um resultado qualquer.

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