Pandemia da Covid-19 aumenta casos de depressão no Brasil

In Geral, Saúde
Casos de depressão aumentaram pós covid

Doença mental cresce em 41% segundo dados do Covitel e os impactos na saúde dos cidadãos brasileiros são negativos.

Julia Viana

Os casos de depressão no Brasil aumentaram devido à pandemia do Covid-19. Isso é o que mostra a pesquisa realizada pelo Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia) que avalia os impactos negativos da pandemia na saúde da sociedade. Os dados revelam um aumento de 41% no diagnóstico médico de depressão entre o período de pré-pandemia e o 1º trimestre de 2022.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 4,4% da população mundial possui algum tipo de transtorno depressivo. O mesmo pode estar associado a fatores genéticos, com uma probabilidade de 40% ou também influenciado pelos gatilhos que o ambiente proporciona. Ou seja, o aumento deste diagnóstico pode ser explicado pelo isolamento social causado pela pandemia.

Com uma grande demanda de consultas, a psicóloga Larissa Fraga precisou ampliar seus atendimentos e atender alguns pacientes de forma online. Ela conta que notou uma alta significativa na procura de suas consultas durante o ano de 2020 e 2021. “Se antes vinham cinco pacientes, depois da pandemia começaram a vir o dobro de pessoas”, destaca. 

O aumento do diagnóstico de depressão no período de 2022 foi maior entre as mulheres e pessoas com maior escolaridade. No grupo analisado do sexo feminino, houve um crescimento de 39,3%. O diagnóstico de mulheres foi maior que o dos homens, tanto antes da pandemia quanto depois. 

Visão profissional

Conforme a psicóloga Larissa, o público que mais tem procurado as sessões é em sua grande maioria formado por adolescentes e mulheres. Ela ainda explica que jovens e adolescentes desenvolveram comportamentos suicidas e de automutilação. Mulheres desenvolveram estresse, por causa da responsabilidade de se reinventar e adaptar-se a coisas jamais vividas.

Além disso, Larissa conta que o encaminhamento para psiquiatras foi frequente. “Muitas pessoas que eu atendi foram encaminhadas para o psiquiatra para manter um acompanhamento melhor e com os medicamentos necessários”, conta. Ela também acrescenta: “Não necessariamente as pessoas que foram infectadas pelo coronavírus, são as que mais tiveram sequelas, o caos gerado na mente humana por muitas vezes pode ser pior que os danos físicos.”

Impactos da pandemia na saúde mental

A Covitel constatou que a depressão era mais frequente entre aqueles com 65 anos ou mais, porém, após a pandemia, praticamente todas as faixas etárias possuíam números semelhantes. Esse é o caso da Maria Solange, uma senhora de 69 anos, diagnosticada por seu psiquiatra, com depressão há mais de 20 anos. “Eu notei um aumento de crises depressivas no período da pandemia”, conta. Maria, também explica que com essas crises, a frequência de idas aos médicos e a adição de remédios também aumentaram.

A maior dificuldade que a depressão lhe trouxe foi a perda de sua independência. Como uma senhora ativa em suas atividades diárias, a depressão e a pandemia a limitaram muito. Por isso, sua reclusão e a perda da rotina  levaram a ter um esgotamento pessoal trazendo angústia, insegurança e medo. Problemas que continuaram após o controle do vírus. 

Para Maria, é importante ter ao seu redor filhas e netos que a ajudem e entendam que a depressão é uma doença tratável. Assim, o apoio deles beneficia cada vez mais seu tratamento e contribui para uma melhor qualidade de vida. Solange reclama que  o governo focou somente na Covid-19 e deixou de escanteio a saúde mental, não dando a devida atenção para a área que precisa de profissionais capacitados. “Existe muito descaso dos governantes para essa área da saúde”, se queixa.

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