Paródias podem ser utilizadas como uma estratégia de aprendizagem?

In Educação, Geral

Descubra o que está por trás da eficácia das músicas na facilitação da aprendizagem e na retenção de informações.

Letícia Casemiro

O fim do ano se aproxima e junto a ele chega o pesadelo de muitos estudantes, o vestibular. Afinal, memorizar fórmulas de química, física, matemática, escolas literárias ou todos os presidentes do Brasil, não é uma tarefa fácil. Por isso, na busca por uma boa nota ou por aquela vaga em uma universidade disputada, vale tudo: desde abusar das rimas até inventar paródias musicais. Esta é uma estratégia utilizada por alunos e professores para ajudar a fixar o conteúdo na mente. 

Muitos educadores criam paródias, versões de canções conhecidas, ou até mesmo composições próprias, com tópicos chaves do conteúdo e as levam para a sala de aula. Isso porque as melodias ficam gravadas com mais facilidade em nossa mente. Você não se lembra da famosa “Um, dois três; Três, dois um; Tudo sobre dois…” , grande aliada das provas de trigonometria? E essa é só uma entre as diversas musiquinhas que fizeram e ainda fazem parte da rotina de estudo de muitos alunos. 

Rocheli Jacques, estudante de medicina, conta que quando foi prestar vestibular para ingressar na instituição que estuda, as músicas e paródias que seu professor de física do ensino médio ensinava a ajudaram na resolução de questões da disciplina. “Peguei o papelzinho e comecei a cantar em voz alta(…) Eu ia cantando e anotando as fórmulas e aí quando eu terminei tava lá no papel todas as fórmulas de física bonitinhas”, lembra a universitária.

Muitos alunos e professores utilizam desta técnica, mas como explicar esse fato e comprovar sua eficácia? 

O que a ciência diz sobre

Virgínia Chaves, mestre e doutora em neurociências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica que, ainda que a quantidade de artigos publicados sobre o tema seja baixa, existem resultados que apoiam o uso de músicas educativas criadas como estratégia de memorização. “Um artigo interessante mostrou que quando o conteúdo da aula era dado de forma musical antes da aula tradicional os alunos se sentiam mais relaxados e menos estressados, o que sabemos, amplia o escopo de possibilidade de aprendizagem”, menciona.

Existem ainda os artigos que mostram que a criação de paródias pelos próprios alunos também é uma estratégia satisfatória. Essa abordagem seria similar à de “escrever para aprender”, na qual os alunos reescrevem o que compreenderam sobre a matéria dada para organizar os pensamentos e avaliar o próprio grau de entendimento sobre o conteúdo.

A neurocientista ensina que os mecanismos cognitivos são influenciados por elementos sensoriais e emocionais, dentre outros. Dessa forma, as músicas com conteúdo acadêmico unem palavras e significados a melodias, criando um conjunto sensorial poderoso que estimula referências cerebrais para evocação da memória. Ou seja, nesses casos, a melodia e as rimas funcionam como pistas que facilitam a busca informações e conteúdo no cérebro, que quando não associadas as melodias seriam mais dificilmente “encontradas”.

“É muito comum no caso de músicas de comerciais e músicas-chiclete que o cérebro agrupe as informações de maneira que quando você lembra da melodia e da primeira frase ou palavra, a letra inteira venha à sua mente. Logo, o conteúdo transformado em música pode ser memorizado mais facilmente à medida que é mais facilmente acessado pelo cérebro”, exemplifica a pesquisadora.

No entanto, a maior parte dos estudos recebe a crítica de que o uso de músicas como estratégia de aprendizagem é mais direcionado à memorização dos fatos e não diretamente a uma aprendizagem profunda. “Tal crítica pôde ser contestada em um trabalho recente que propõe um modelo de aprendizagem com uso de músicas baseado no framework do Universal design for learning, conhecido método de aprendizagem”, argumenta Chaves.

SOS vestibulares

Mas é bom lembrar que as músicas não substituem os livros e que ninguém espera um aprendizado completo apenas ao ouvir ou decorar músicas. Primeiro é preciso entender o conteúdo e depois, para ajudar na memorização e fixação, as músicas podem ser boas auxiliadoras do ponto de vista cognitivo e metacognitivo. Principalmente, se “der um branco” na hora da prova. 

A educadora Jessyca Nunes, professora de língua portuguesa e literatura, separou algumas dicas, além das paródias, para você se sair bem nas provas. Confere aí:

  • É importante conhecer a prova que você irá fazer, então leia o edital e o conteúdo programático das provas. Às vezes, o conteúdo muda de um vestibular para o outro.
  • Organize um cronograma de estudos. As matérias podem ser divididas por dia ou por área, depende do seu gosto e da sua organização!
  • Priorize as matérias que você tem mais dificuldade e separe um maior tempo de estudos para elas.
  • Dedique-se e tenha disciplina. Lembre-se, ninguém fará por você aquilo que você pode fazer sozinho. Mas caso não consiga sozinho, o ideal é tentar um cursinho pré- vestibular!
  • Pesquise provas de exames anteriores e treine! Isso fará com que você conheça o estilo das questões e tenha mais segurança na hora da prova.
  • Treine a redação com vários temas atuais. Lembre-se que a nota da redação é muito importante nesses exames!
  • Mantenha-se sempre atualizado, acompanhe jornais com notícias e atualidades, pois alguns vestibulares e o Enem dão ênfase a temas atuais.
  • Cuide de sua saúde, se alimente bem, faça um pouco de exercício físico (nem que seja uma simples caminhada), beba muita água e não esqueça da saúde mental, ela faz toda a diferença na hora das provas de caráter eliminatório/classificatório.
  • É importante estudar, mas também tire um tempo para descanso, passe tempo com pessoas que acreditam em você.

Bom vestibular!

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