Síndrome de Tourette: causas, sintomas e desafios

In Geral, Saúde

Especialistas explicam sobre o transtorno e jovem vence os desafios da síndrome.

Natália Goes

A síndrome de Tourette é “um distúrbio neurológico crônico que advém de componentes genéticos”, conforme explicou a psicóloga Heloísa Ramalho, pós-graduanda em neuropsicologia. Segundo ela, a síndrome não aparece necessariamente na infância, mas os sinais aparecem antes dos 18 anos.

O Tourette teve mais visibilidade depois de artistas como Billie Eilish e Lewis Capaldi revelarem seus diagnósticos. No Brasil, a Comissão de Educação aprovou em 2019 o projeto de lei de nº 5549 em que fala que o dia 7 de junho deve ser celebrado como o Dia Nacional da Síndrome de Tourette.

Segundo a psicóloga, os tiques podem ser vocais e motores, únicos ou múltiplos, causando um sofrimento significativo na vida do sujeito. Apesar de algumas pessoas conseguirem controlar em parte os tiques, ela diz que “os tiques não são controlados. Algumas pessoas podem controlar por um tempo determinado, tentam camuflar o comportamento e tentam evitar mostrar, mas isso pode gerar um sofrimento, um desconforto muito considerável para eles. Pois é uma descarga sensorial muito considerável, podendo causar um regressão.”

A psicóloga clínica especializada em atendimento de crianças e adolescentes com síndromes, transtornos, e outros déficits, Yasmin Almeida, complementa explicando que apesar da síndrome ser caracterizada por tiques vocais e motores, essas pessoas têm uma maior predisposição de receber outros diagnósticos como Transtorno Obsessivo Compulsivo, TDAH, Transtorno de Ansiedade, entre outros, o que pode gerar também problemas sociais e emocionais.

Tiques mais comuns

Os tiques podem se manifestar de várias formas, cada um tem um nome específico. Segundo a psicóloga Yasmin, entre os mais comuns estão:

– Palilalia: repetição das mesmas palavras;

– Ecolalia: repetição das mesmas palavras ditas por outra pessoa;

– Coprolalia: é o tique provocado por palavras obscenas;

– Copropraxia: gestos obscenos, principalmente “dedo do meio”.

Tratamento e diagnóstico

“A síndrome é diagnosticada por uma avaliação clínica, ela não tem um exame de imagem ou laboratorial para que consiga aparecer e apresentar. E essa avaliação clínica é feita pelo médico e por um neuropsicólogo”, relata a psicóloga Yasmin.

Já em relação ao tratamento, não se pode falar em cura. “Esse tratamento pode ser realizado por um psicólogo, um psiquiatra, um neurologista, fonoaudiólogo. Esse tratamento é feito por uma equipe multidisciplinar. O tratamento é contínuo e feito por uma equipe multidisciplinar com médicos especializados”, explica Ramalho.

Além do tratamento multidisciplinar, intervenções farmacológicas são recomendadas.  “Quando você passa pelo médico ele vai estar indicando os medicamentos mais apropriados diante dos sintomas. Não que esses medicamentos sejam para Síndrome de Tourette, mas esses medicamentos vão auxiliar os sintomas que estão sendo apresentados pelo indivíduo”, conclui a psicóloga Yasmin.

Vivendo com a síndrome

Bruno Spadafora, um jovem de 27 anos e influenciador digital, sofre com a síndrome de Tourette. Ele escolheu compartilhar suas experiências com a síndrome nas redes sociais, mas nem sempre foi assim. Em 2017, Bruno passou por um momento desafiador em sua vida.

Além da síndrome, segundo ele, estava atravessando o pior momento. Acometido por depressão e pensamentos suicidas. “Bati no fundo do poço, mas não fiquei lá, pois Deus tinha um propósito para mim”, relata. Esse momento de autorreflexão foi essencial para a virada na vida do influenciador.

Apesar das dificuldades em relação à saúde mental, ele encontrou forças para superar o momento difícil acreditando no propósito divino para sua vida. “Quando bati no fundo do poço me impulsionei e comecei nova trajetória em minha vida e nas vida de outros portadores da Síndrome de Tourette e seus familiares”, explica Bruno.

Com determinação e coragem, no mesmo ano ele decidiu sair do seu quarto e compartilhar sua patologia com as pessoas em suas redes sociais. O primeiro relato foi feito no Facebook, entretanto, seus pais ficaram temerosos com uma repercussão negativa e com o intuito de protegê-lo pediram para que ele retirasse a postagem.

Porém, a repercussão do relato foi imediata e positiva, pessoas de várias partes do mundo como México, Uruguai, Argentina, Estados Unidos e Brasil começaram a interagir com o influenciador. “Me senti aliviado e confiante, senti que não estava sozinho naquela batalha”, confessa Spadafora.

Ajudando outras pessoas

As barreiras, que antes pareciam intransponíveis, foram quebradas e a partir desse momento um mundo novo se abriu para Bruno. A cada dia seus objetivos iam se fortalecendo. “Levarei esperança e fé irmãos da Síndrome de Tourette”, confirma.

Embarcando nessa nova trajetória e como a síndrome ainda é muito estigmatizada, ele continuou compartilhando sua vida nas redes sociais. A iniciativa deu certo, hoje seus vídeos alcançam mais de 13 milhões de pessoas, ele também já participou de programas como Encontro com Fátima Bernardes, na Globo, Repórter Espetacular e Dr. Visita na Record. Além disso, deu depoimentos para revistas, palestras em escolas, testemunhos em igrejas para jovens e famílias.

Graças a sua atuação nas redes sociais, Bruno foi escolhido em 2022 como símbolo da Campanha Estadual da Síndrome de Tourette no estado de São Paulo. Um grande reconhecimento por toda dedicação e trabalho na conscientização e apoio às pessoas que são afetadas pela síndrome.

Para o jovem, os próximos passos ainda são de um incansável compromisso com a conscientização sobre a síndrome. “Minha próxima meta é conseguir levar mais informação ao mundo referente a síndrome de Tourette, para conseguir amenizar o sofrimento de todas as pessoas que têm a síndrome e o principal, levar informação para as pessoas que não tem a síndrome, que é onde falta o conhecimento. Para assim, poder compartilhar mais amor e empatia nas pessoas e para que as pessoas que têm a síndrome tenham uma vida mais tranquila longe do preconceito, longe de discriminação”, conclui Bruno.

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