Volunturismo: empatia ou opção mais econômica para conhecer o mundo?

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Volunturismo, empatia e turismo

Com o crescimento do projeto, parte das pessoas se questionam se a prática é realmente solidária e com propósitos ou se, na verdade, é uma indústria multibilionária.

Ana Júlia Alem

A prática do Turismo Voluntário, conhecido também por volunturismo, envolve o desejo do turista de dar a volta ao mundo em troca da doação de seu tempo e habilidades para impactar positivamente o local visitado. A atividade pode ser exercida de inúmeras formas, seja auxiliando em orfanatos, dando aula de idiomas ou até mesmo como barman.

Hoje em dia, essa prática vem se tornando cada vez mais comum, como mostra a pesquisa realizada pela Tourism Research and Marketing (TRAM), uma empresa londrina de consultoria turística fundada em 1980. A análise afirma que a opção turística alternativa tem grande potencial de desenvolvimento nos próximos anos, principalmente na Europa. Além disso, calcula que já existem mais de 1,6 milhões de voluntários, a maioria sendo mulheres entre 20 e 25 anos.

“Ao contrário do que muitos pensam, o objetivo principal do volunturismo não é para conseguir uma viagem econômica, mas sim alcançar o crescimento pessoal e coletivo. A experiência faz com que o indivíduo conheça novos lugares e realidades, mas quando feita com comprometimento e responsabilidade, pode resultar em experiências inimagináveis”, aponta a digital influencer, Maryana Telles, que divide suas experiências de voluntariado em viagens em sua conta do Instagram.

Os benefícios do turismo voluntário

A psicóloga Mariellen Cristina conta que são muitos os benefícios desse projeto. “Quem conhece o volunturismo sabe que ele atua como uma ótima maneira para adquirir conhecimento intercultural. Para quem o pratica, o ganho é maior que o esperado, pois além de ser uma economia financeira, enriquece o currículo e contribui grandemente com as pessoas ao redor”, declara .

O projeto Viajar Verde, uma plataforma brasileira de notícias dedicada a compartilhar informações e experiências sustentáveis do turismo, expõe, em uma de suas publicações sobre o tema, que o turismo solidário é um tipo de ajuda humanitária e ecológica e impacta diretamente a vida de pessoas, animais ou lugares em vulnerabilidade. 

Além de todos os benefícios mais comuns, a psicóloga afirma que a sensação de fazer a diferença na vida de outras pessoas faz com que o nível de serotonina do indivíduo aumente, o que auxilia na melhora de problemas mentais, como depressão e ansiedade que, hoje, são complicações muito comuns.

Quatro meses em Moçambique: uma experiência real

Gabriel Anjos é um paulista aventureiro de 43 anos que quando jovem fez uma lista de coisas que ele gostaria de fazer antes de morrer. No decorrer de todos esses anos, muitos tópicos da lista foram realizados com sucesso: já doou sangue, fez trabalho voluntário em diferentes países, como Indonésia e Irã, e até um mochilão pela América Central.

“Quando criei a lista, o principal objetivo era viver experiências bacanas para mim mesmo, mas com o tempo, após dar tantos checks na minha checklist, percebi que o que me realizava mesmo era compartilhar as minhas boas experiências com as pessoas que estavam ao meu redor. O meu último voluntariado foi assim, os quatro meses em Lichinga foram um ensinamento para mim e posso dizer, com certeza, que aprendi muito mais do que ensinei”, conta Gabriel.

O voluntário conta que, desde o início, fez todos os contatos sozinho, pois, dessa forma, teria a certeza de que seu trabalho teria um propósito verdadeiro. “Eu trabalhava auxiliando na parte de imprensa e redes sociais em troca de acomodação e alimentação. Além disso, também dava aulas de inglês para as crianças da comunidade”, diz.

“Eu voltei muito feliz e realizado com tudo que aprendi e ensinei lá. Penso que todos deveriam viver essa experiência ao menos uma vez na vida. Para quem pensa em praticar o volunturismo, só tenho dois conselhos para dar: busque projetos com propósitos reais e vá com muita disposição”, conclui.

Até onde vai o desejo de viajar com propósito humanitário?

O projeto tem um incrível propósito, mas será que é isso mesmo? Será que o principal objetivo das pessoas voluntárias é ajudar aos necessitados? Será que as agências intermediadoras estão realmente preocupadas com o mundo ou estão apenas visando o lucro que terão futuramente? Essas e outras questões pairam na mente dos que ouvem falar do volunturismo.

O Grupo VICE Media, uma rede de mídias globais, divulgou, neste ano, uma entrevista sobre o turismo voluntário. O produto recebeu o nome de “The Dark Side of Rich Kids Volunteering Abroad” (O Lado Obscuro dos Jovens Ricos Voluntários no Exterior, em português) e fala sobre como o volunturismo cresce cada vez mais como uma indústria bilionária.

Durante a entrevista, a mulher anônima conta diferentes relatos da viagem em que foi voluntária em um orfanato. Em um deles, ela expõe que o diretor do local desviava todas as doações que eram feitas para as crianças da instituição. 

“Lá eu ouvia histórias de pessoas que doavam sacolas repletas de brinquedos que não eram entregues às crianças, mas sim vendidos ou dados para os filhos do diretor. Se eles receberem os brinquedos, roupas e comida, não terão próximos voluntários que doarão mais e mais dinheiro. Então por que eles beneficiariam as crianças, de fato, se seus bolsos não serão enchidos de dinheiro? Eles vendem a ideia de que você ajudará comunidades, mas na verdade, só estamos comprando uma oportunidade de ajudar a nós mesmos ”, declara a voluntária.

Para a influencer, não se deve generalizar o volunturismo como uma indústria que só se interessa em beneficiar a si mesma. “Existem muitas ONGs e agências responsáveis por intermediar o turismo voluntário, algumas podem ser meio desviadas. Por isso, antes de tomar uma decisão final sobre como e para onde ir, é indispensável refletir sobre as propostas desses locais para não cair na cilada de se envolver com agências que só buscam ganhar mais dinheiro do que já ganham”, completa.

Como encontrar projetos realmente altruístas e humanitários?

O Viajar Verde disponibilizou diversas dicas para encontrar o voluntariado que melhor combine com os seus propósitos, tais como: procure agências e ONGs responsáveis, converse com pessoas que já participaram do voluntariado e compartilhe experiências, descubra se o plano de ação do projeto está de acordo com as necessidades da comunidade e, por último, se candidate a vagas para as quais você tenha habilidade, assim o voluntário terá um melhor rendimento, tanto pessoal quanto coletivo.

“O turismo solidário é perfeito para conhecer lugares incríveis, realidades diferentes e contribuir para um mundo melhor. Se quer um conselho, não perca a oportunidade e vá de cabeça”, finaliza a voluntária Maryana.

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