Dia da Amazônia: uma luta contra a alienação que mata

In Geral, Meio Ambiente

Em meio à popularização da prática de greenwashing, especialistas apontam a educação ambiental como uma medida reparadora.

Mariana Santos

Ao buscar por empresas com iniciativas sustentáveis, quanto tempo leva para encontrar projetos de “neutralização de carbono”? Se a busca for realizada no google, sem dúvidas diversos resultados aparecerão logo na primeira página. Por mais que pareça atrativo, é necessário destacar que essa é uma das estratégias preferidas de empresas que praticam greenwashing, ou seja, a neutralização de carbono é uma pauta usada frequentemente para iludir clientes e melhorar a imagem da marca diante de possíveis investidores.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, a neutralização de carbono se baseia em um conceito simples: um menos um é igual a zero. A cada tonelada de carbono lançada na atmosfera as empresas que adotam essa estratégia precisam investir o equivalente em projetos que retirem ou diminuam significativamente a emissão de CO2. 

Na prática, o que acontece é que essas empresas dedicam uma parte do orçamento para pagar outras instituições para fazer aquilo que elas não estão dispostas. O que o público consumidor questiona diante disso é: uma empresa que não está disposta a mudar pode ser considerada ecologicamente consciente?

Ambiental, Social e Governança

Usar padrões de comportamento a favor do crescimento da empresa não é uma estratégia recente, contudo, quando se trata de se aliar à sustentabilidade, existe uma sigla destinada a empresas que se importam com aspectos ambientais, sociais e governamentais, em inglês, a sigla é ESG.

O conceito da sigla foi usado pela primeira vez em um relatório da ONU, em 2005, e o texto em questão era intitulado “Who Cares Wins“(ganha quem se importa, em português). O encontro contou com 20 instituições financeiras pertencentes a nove países diferentes, incluindo o Brasil, e o objetivo principal da reunião era encontrar meios de incluir conceito de sustentabilidade dentro do mercado financeiro.

Desde 2005, a sigla foi ganhando cada vez mais espaço e hoje se tornou desejável diante de investidores que se preocupam com o meio ambiente, ou pelo menos se preocupam com os valores de um público consumidor cada vez mais consciente. Mas é inevitável que surjam dúvidas sobre a forma que as iniciativas sustentáveis serão mensuradas.

O Analista ESG, Carlos Eduardo Marques, explica que uma boa prática dentro do mercado é publicar relatórios de sustentabilidade, mas que o relatório por si só não é suficiente. Esses textos, que deveriam facilitar o acesso do cliente às informações da empresa, acabam se tornando tão longos e técnicos que não cumprem o propósito inicial.

“Esses relatórios de sustentabilidade podem ter cinquenta, setenta, cento e cinquenta páginas e falam sobre tudo o que ela [a empresa] faz. Então, não é uma coisa que você pega em um produto e fala: é sustentável”, explica Carlos.

Apesar dos relatórios oferecerem informações completas, uma boa saída para a quebra na comunicação que envolve a extensão dos relatórios, são as certificações e selos que podem aparecer nas próprias embalagens dos produtos. Estes símbolos atestam a forma como cada empresa trabalha e proporcionam acesso à informação sem muito esforço.

Atualmente, existem diversas certificações utilizadas por empresas no Brasil e no mundo. Algumas das mais conhecidas e utilizadas são: Selo ABR (Algodão Brasileiro Responsável), o Certificado Produto Vegano (SVB), CCF Rabbit (Choose Cruelty-Free), Cruelty Free e B Corporation.

B Corporation é um selo que atesta não somente a parte sustentável do meio ambiente mas também das relações sociais dentro da empresa. A intenção é lembrar a todos de que sustentabilidade é um conceito que permeia toda a vida na Terra e não se restringe ao contato com a natureza em sua forma original. Desta forma, uma empresa verdadeiramente sustentável deve pensar em sua estrutura de forma profunda, analisando o perfil de seus funcionários, valorizando o trabalho prestado e se preocupando com questões como diversidade étnica, cultural e de gênero.

Carlos acrescenta: “é assim que uma gestão ambiental pode ser avaliada e pode ser comparada com empresas do mundo todo. Então, se uma empresa daqui de São Paulo, de Manaus, quiser se comparar com outra, elas vão ter que seguir os mesmos critérios e a gente sabe por essa régua que todas elas são boas.”

Um mundo ideal

Quanto mais se aprende sobre práticas sustentáveis, mais distante essa realidade parece ficar para o público geral. Afinal, a tão falada neutralização de carbono pode ser aceita como algo positivo? Para a Doutora em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento, Juliana Velloso, esse é um assunto muito complexo.

Primeiramente, o inventário de carbono é o conjunto de registros e dados que ajudam qualquer pessoa ou instituição a descobrir o impacto negativo que têm gerado no meio ambiente. Na prática, o inventário de carbono define o que deve ser feito para “compensar” o dano causado, contudo, enquanto as empresas “empurram” a responsabilidade para o público consumidor, a população prefere creditar toda a culpa ao governo. Moral da história: ninguém faz nada.

De acordo com a especialista, “as emissões [de carbono] são de escopo um, dois e três. As de escopo um e dois estão dentro da alçada da empresa, só que essas emissões, geralmente, não são as mais problemáticas em termos quantitativos de emissões. As emissões mais problemáticas são as emissões de escopo três, que são liberadas quando os produtos são consumidos, nesse caso a maioria das empresas fala: ‘isso eu não posso controlar”.

“O mundo ideal seria que todas as empresas e até nós mesmos, dentro de nossa estrutura familiar de pessoa física, pudéssemos mensurar e fazer o inventário de carbono”, entretanto, como a especialista afirma, essa não é uma opção viável. “A gente ainda está patinando nesses aspectos e, na verdade, nós não temos nem um inventário de algumas cidades do Brasil”, aponta a Doutora que, atualmente, trabalha no Ministério de Minas e Energia.

Juliana acredita que é necessário trabalhar junto à população para que qualquer mudança seja visível. “Quando eu comecei a trabalhar no Estado percebi que nenhuma política ambiental seria bem sucedida sem educação ambiental. Qualquer política pública e qualquer ação nessa área tem que ser em conjunto com a educação”, afirma a especialista.

Educação que transforma 

No Brasil existem diversas iniciativas que atuam na área de educação ambiental, e a UNA é uma delas. Segundo a fundadora Carolina Hanashiro a atuação da empresa ocorre em quatro frentes: Projetos de sustentabilidade, Vivências e formações, Transformação de espaços e Produção de conteúdo.

A equipe UNA se modifica a cada projeto. “Com escolas, em geral, trabalho com biólogos ou educadores ambientais com experiência em aprendizado. Para circuitos urbanos, como por exemplo aquele em que apresentamos as espécies arbóreas aos participantes, conto com a colaboração de engenheiros agrônomos ou biólogos especializados neste tema. A mesma ideia para as vivências sobre abelhas, artes, resíduos, etc”, afirma a fundadora.

Dia da Amazônia revela lutas para protegê-la.

De acordo com Carolina, a educação ambiental tem o poder de promover a reconexão do ser humano com a Terra a partir de questões cotidianas individuais e coletivas. “É a partir dessa consciência e da mudança de nossos hábitos que podemos provocar uma transformação significativa e regenerar nosso planeta”, afirma.

Um dos trabalhos da UNA envolve apresentar o conceito de sustentabilidade para grupos escolares de crianças. “Quando mostramos para as crianças o caminho do lixo, por exemplo, elas passam a ter uma atitude diferente em relação ao consumo. O mesmo quando mostramos a origem e o ciclo do alimento”, explica Carolina e acrescenta que o contato com as “comidas de verdade” costumam gerar um interesse maior nas crianças por uma alimentação mais saudável.

É importante ressaltar que, apesar de ter uma presença muito forte no meio infantil, a educação ambiental não é restrita a crianças. A fundadora explica: “com nosso trabalho de Educação Ambiental queremos inspirar as pessoas e transformar hábitos e espaços para reduzir os impactos negativos da nossa presença no planeta e fortalecer uma cultura colaborativa, empática e de integração com o meio ambiente.”

Mais que um discurso, uma forma de viver

Seja por falta de acesso ou por falta de interesse, muitas pessoas não estão familiarizadas com o cotidiano de pesquisa relacionada ao meio ambiente. É contra esse tipo de desinformação que a divulgação científica atua nas redes sociais, sobretudo no Twitter. 

Pesquisadores de diferentes áreas da biologia têm separado tempo voluntariamente para disponibilizar conteúdo científico de forma simples na internet. Esse é o caso da pós-graduanda em Ecologia, Liandra Cassiano, que é bióloga e trabalha com aves (ornitóloga).

A pesquisadora percebeu que existia uma forte carência de conteúdo simplificado e confiável, já que a internet também proporcionou alcance para informações falsas. Ela explica: “existe um universo de informações contidas em uma linguagem acadêmica e a maioria em inglês, o que dificulta a ampliação desse conhecimento para o público em geral. Dessa forma, falar sobre conteúdos, no meu caso, biológicos é uma forma de tentar fazer com que esse conhecimento esteja disponível de uma forma mais simples para outras pessoas.” 

Bióloga Liara Cassiano com martim-pescador-miúdo

Outros profissionais também têm se comprometido a popularizar informações relacionadas ao meio ambiente. Carlos Eduardo Marques, o Analista ESG citado anteriormente, é um exemplo de alguém que carrega consigo uma causa que vai muito além dos compromissos profissionais. Carlos é diretor do coletivo Ambiafro, um projeto que reúne pessoas pretas que defendem o meio ambiente dentro de suas diferentes áreas de atuação.

Um dos membros do Ambiafro é o ator Jonathan Fontella, que contribui com o coletivo na área de comunicação. Para Jonathan, é muito difícil falar sobre algo tão individual, mas que é possível entender a sustentabilidade quando consideramos que as pessoas estão realmente conectadas umas com as outras.

“Tudo acontece através do diálogo na política. A gente chama de diálogo, mas para mim ele é um ato político porque a partir dali a gente vai transferir, trocar e interpretar ideias que sozinho a gente não daria conta. O importante é a gente ter consciência, a gente discutir isso e trabalhar com políticas públicas que mudem essa realidade”, explica o artista.

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