“El Niño” chegará a afetar o Brasil em 2023?

In Geral, Meio Ambiente

Conheça os impactos deste fenômeno em diferentes áreas da economia e as principais diferenças com “La niña”.

Cristina Levano

De acordo com um alerta realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), o fenômeno climático “El Niño”, tem probabilidade de voltar em 2023. Com 15% de chances entre abril e junho, 35% entre maio e julho e 55% de junho a agosto. No Brasil, isso pode resultar em condições climáticas extremas, como fortes chuvas, secas prolongadas e ondas de calor.

El Niño é o nome dado por especialistas para definir o aquecimento anormal das águas da costa da América do Sul, no Oceano Pacífico. O fenômeno faz com que ocorra o enfraquecimento dos ventos alísios, durando de um ano a um ano e meio, em média. Além disso, acontece em intervalos irregulares entre dois e sete anos.

“Durante este período, não há o carregamento de água aquecida em direção à Indonésia, provocando chuvas intensas na costa sul-americana e aumento dos períodos de seca e estiagem na Austrália, Indonésia e outras regiões próximas”, explica a meteorologista Carolinna Maria Silva. 

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), após o fim do fenômeno “La Niña”, as previsões indicam um aumento nas chances de um evento El Niño entre o final do inverno e início da primavera de 2023. Ainda conforme o Inmet, o fenômeno já está afetando as temperaturas do Oceano Pacífico e há grande probabilidade de que se intensifique nos próximos meses. Isso pode resultar em mudanças significativas nas condições climáticas do Brasil, com impactos negativos para a agricultura, setor de energia e abastecimento de água.

Impactos no Brasil

Por ser um país continental, o impacto do El Niño no Brasil varia de região para região, desde a severidade de uma seca até chuvas torrenciais. As regiões Norte e Nordeste passam por um período de seca severa devido à redução das chuvas. Isso se deve a uma série de fatores, entre eles o fato de as regiões estarem próximas à Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), uma área onde ocorre a conversão dos ventos alísios dos hemisférios Norte e Sul, sendo o principal responsável pela produção da maioria das chuvas na região semiárida de dezembro a maio. 

Quando ocorre o enfraquecimento dos ventos alísios pelo El Niño, as estiagens no Norte e Nordeste se intensificam. No Centro-Oeste e Sudeste do país, a influência deste fenômeno tende a aumentar o regime de temperatura (principalmente no inverno) e elevar a quantidade de chuvas em algumas áreas. No entanto, a região Sul costuma ser a mais afetada na questão do aumento das chuvas, com índices pluviométricos intensos e volumosos.

Impactos na agricultura

Durante este período, as regiões com chuvas mais intensas podem ter suas lavouras inundadas, levando a uma queda significativa na produtividade e diminuição da qualidade dos produtos. Nesse caso, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sugere algumas estratégias para os produtores, como o preparo do solo para fazer a semeadura, rotação de culturas e uso de cultivos resistentes à enfermidades que possam surgir com a umidade.

A bióloga e meteorologista Carolinna Maria Silva Martins informa que durante os períodos de seca, pode ocorrer o aumento da presença de ervas daninhas e algumas pragas. Porém, estratégias como plantio direto e uso de cultivares mais resistentes ao estresse hídrico podem ser boas opções para diminuir as perdas das lavouras.

No entanto, em períodos de El Niño com força fraca ou moderada, a produção agrícola pode ser beneficiada em algumas regiões, como no Centro-Oeste, por conta do aumento da umidade, favorecendo o plantio e o crescimento das culturas.

“Temos boas perspectivas em relação à união tanto para agricultura quanto para a pecuária, e em relação à safra (o que marca o início do ano agrícola e costuma ser o período mais rentável para a produção)”, declara o meteorologista Marcos Jean.

Na região centro-oeste, a grande produtora de grãos que se encontra em grande parte de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, etc, de acordo com os dados, não tem uma grande diferença no regime de chuvas e precipitação.

Atividade pesqueira

Conforme uma pesquisa publicada pela revista Sociedade e Território, a pesca durante o ano deste fenômeno, ocorre de forma direta ou inversa, variando de acordo com as características do peixe e o ecossistema em que está inserido. Por outro lado, os ventos alísios favorecem um mecanismo conhecido como ressurgência, na costa da América do Sul, que seria o afloramento de águas mais frias e profundas do oceano.

“Em condições normais, os ventos alísios, que são ventos mais úmidos, sopram de leste para oeste na região equatorial do oceano Pacífico. Esses ventos carregam a superfície mais quente da água para a parte Equatorial Oeste. Essas águas são repletas de nutrientes que favorecem o aumento de peixes naquela região”, disse Clara Maria Silva.

A energia elétrica no Brasil

Marcos Jean afirma que a energia durante o El Niño, no Sul do país, é muito boa, já que aumenta o regime de precipitação, deixando os níveis dos reservatórios bem elevados. Um claro exemplo é a ITAIPU Binacional, no Paraná, uma grande produtora de energia elétrica. Esta produtora possui um grande lago que durante o ano de El Niño, fica bem abastecido.

“Então para nossa segurança energética ele (El Niño) é muito bom, em especial porque o Brasil, tem uma matriz elétrica e energética ainda muito dependentes das hidrelétricas”, acrescenta o meteorologista.

Qual é a diferença entre El Niño e La Niña?

El Niño e La Niña referem-se ao mesmo fenômeno climático, mas são usados ​​para descrever duas fases opostas da oscilação do clima no Pacífico tropical. O El Niño é caracterizado pelo aquecimento atípico da superfície do mar no Pacífico tropical, o que pode levar a alterações na circulação atmosférica global. 

Por outro lado, La Niña refere-se a uma fase oposta dessa oscilação, em que as águas tropicais do Pacífico esfriam abaixo do normal. Isso pode ter efeitos opostos no clima em comparação com o El Niño, como clima mais frio e seco em algumas regiões e aumento da precipitação em outras.  

A direção em que a temperatura da água oscila no Pacífico tropical, pode ter efeitos significativos no clima global, e é a principal diferença entre as duas fases do fenômeno.

Como se prevê o fenômeno? 

Carolinna Maria complementa dizendo que “existem algumas pesquisas com previsões baseadas em modelos climáticos nos quais se analisam as condições oceânicas e atmosféricas, como as temperaturas da superfície do mar e os ventos.”

Da mesma forma, uma das principais ferramentas usadas para prever o fenômeno é o Sistema de Alerta El Niño-La Niña, mantido pelo Centro Internacional para a Pesquisa do El Niño (CIIFEN) e pelo Centro de Previsão do Clima do Pacífico (CPC), os dois localizados nos Estados Unidos. Este sistema utiliza modelos climáticos sofisticados para simular as condições do oceano e da atmosfera e, assim, prever o comportamento do El Niño e La Niña.

Outra técnica usada é a análise de dados históricos, que permite identificar padrões e correlações entre as condições climáticas passadas e a ocorrência do El Niño, prevendo a probabilidade de este ocorrer em um determinado ano. Embora as previsões possam ser bastante precisas, por ser um fenômeno natural, ainda não é possível prever com exatidão a ocorrência do El Niño.

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