Limbo racial: a dificuldade de definir a própria cor

In Cultura, Geral

Em um país miscigenado como o Brasil, uma parte da população enfrenta um impasse para declarar a sua própria etnia.

Hellen de Freitas 

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, existem apenas cinco etnias, sendo elas: preta, que enquadra a parda, além da amarela, branca e indígena. Contudo, o Brasil é um país em que a miscigenação é uma realidade. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE de 2021, os pardos somam cerca de 100 milhões de brasileiros, equivalente a 47% da população.  

A população autodeclarada branca diminuiu em 2019 devido ao aumento de indivíduos que se identificam como pardos e pretos. O crescimento foi de, respectivamente, 10% e 36%, ocasionando assim a diminuição de 3% da população branca.

Entretanto, uma grande parte dos brasileiros sente dificuldade para definir a própria cor ao se deparar com uma variedade de tonalidades e etnias, o que nos leva ao termo limbo racial. A categoria ‘’pardo’’, por exemplo, ao invés de esclarecer, gera muitas dúvidas com relação à própria existência dessas pessoas. 

Questionamento racial 

Os indivíduos ditos como pardos, enfrentam questionamentos como, se devem ser considerados como uma etnia ou até mesmo se também sofrem racismo na sociedade. A estudante de Farmácia Mariana Souza, se identifica como parda e sente alguns problemas para se identificar. ”Sinto dificuldades até hoje por não ser vista como branca por pessoas brancas e nem como não-branca por pessoas racializadas. Se identificar como pardo é receber carteiradas de todos os lados sobre como você se enxerga racialmente”, desabafa.

No país temos a Associação Nação Mestiça, fundada em 2001 na cidade de Manaus. Esta é uma organização de brasileiros mestiços e de defesa do processo espontâneo de mestiçagem brasileira. Entre vários objetivos, tem como o principal, defender a etnia mestiça do país e o reconhecimento deles como herdeiros dos legados dos povos dos quais eles descendem. 

Sobre o movimento negro incluir pardos, o secretário geral da organização, Leão Alves, comenta: “se incluir significar impor aos pardos a classificação como “negros”, não. Pardo não é preto, pardo é mestiço, preto é quem só descende de preto‘’, explica.

Leão também expõe sua visão segundo o viés do racismo para com os pardos, segundo ele todo racismo de certa forma é contra os pardos, pois visa evitar o nascimento de mestiços. Ele esclarece que ‘’a própria classificação dos pardos como “negros” é racismo. É a ideologia de que “ser de raça” seria superior a ser miscigenado, a não ter raça.’’

Experiência no exterior

O colorismo e as concepções de racismo fora do Brasil são diferentes, você pode ser definido por uma cor aqui no Brasil e ao sair é recebido de uma outra maneira. Por se tratar de outro país, a cultura e o colorismo também são abordados de maneiras distintas. 

Bruna Moledo, estudante de Jornalismo, realizou voluntariado na Dinamarca no último ano e sentiu um tratamento diferente por conta da sua cor, apesar de se considerar parda. A estudante relata, por exemplo, que foi seguida por seguranças em alguns estabelecimentos. ‘’Estava eu e um amigo, quando percebi olhares tortos e o dono chegando pra frente para nos vigiar, na mesma hora me senti incomodada e o chamei para irmos embora e nos resguardar, afinal estávamos em um país que não era o nosso”, conta.

Bruna diz que não pode comparar o preconceito que sofreu com o que é vivido por outras populações minoritárias, mas sentiu que sofreu micro agressões em seu período na Dinamarca. Ela ainda afirma que foi um choque grande pois se considera parda e no Brasil sempre foi tratada com os privilégios de pessoas brancas. ‘’Sendo brasileira você fica naquele limbo racial de não ser tão escura ou tão clara, então é fácil se sentir cego, mas quando você vai para a Europa, por exemplo, onde a população é majoritariamente branca, você sente a diferença através da xenofobia, preconceito e racismo’’, relata. 

Ela diz que essa experiência abriu seus olhos para as questões de desigualdade, e como as pessoas sofrem com isso no próprio país e passa despercebido. Bruna acredita que a sua ida para outra realidade a fez respeitar ainda mais a luta da comunidade preta que sofre com isso corriqueiramente.

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