Violência psicológica contra a mulher: o que é e quais são os principais sinais

In Geral, Saúde

Como a violência psicológica afeta a vítima e suas relações sociais.

Camilly Inacio 

Dados da  Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 mostraram que 17% da população brasileira, equivalente a quase 28 milhões de pessoas maiores de 18 anos, sofreu algum tipo de violência psicológica. A pesquisa revela, ainda, que a violência psicológica relatada por 31,5% das pessoas foi que alguém as ameaçou verbalmente de lhes ferir ou ferir alguém importante para elas.

No mesmo ano, a pesquisa apontou que cerca de 29,1 milhões de pessoas de 18 anos ou mais sofreram algum tipo de violência, no Brasil. Desse número, 95% sofreram violência psicológica, mostrando que esse tipo de violência está ligada a outras, como violência física e sexual.

O levantamento da PNS também revelou que, entre as vítimas, mulheres são a maioria. O percentual de mulheres que sofreram violência é de 19,4%. De acordo com a 16ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2021, cerca de 36 mil mulheres foram vítimas de perseguição e violência psicológica em todo o país.

Mas afinal, o que é a violência psicológica?

A psicanalista Camila Rossi diz que “o abuso emocional ou violência psicológica é todo comportamento que cause dano emocional e diminuição da autoestima da vítima.” A violência psicológica é invisível, por isso, é mais difícil de ser percebida, reconhecida e comprovada pela vítima, já que não deixa marcas no corpo, mas na mente.

Bárbara Lopes, psicóloga, pós-graduada em Saúde Mental e Coletiva, que atua com foco na Saúde Mental da mulher e também de pessoas vítimas de violências, explica a importância de pontuar que a violência psicológica está presente em todos os tipos de relação, mesmo com familiares e amigos.

“É bom lembrar e atentar para isso, pois se esse tipo de violência ocorre na infância e adolescência, os agravos na saúde mental podem ser até mais intensos se não tratados de forma adequada”, reforça a psicóloga. 

No entanto, os dados mostram que as mulheres são as que mais sofrem violência doméstica e psicológica na nossa sociedade. Mulheres que vivem nesse tipo de realidade e sofrem dessa violência são a maior demanda que Bárbara afirma atender. 

Bárbara explica que dentro de um relacionamento a violência psicológica são aquelas famosas frases: ‘você está louca’. ‘Isso não aconteceu’. ‘Você está inventando’. ‘Isso é coisa da sua cabeça’. 

Ela continua exemplificando que quando a mulher começa a questionar algumas falas do parceiro, ele começa a dizer que isso não aconteceu, que é a coisa da cabeça dela. “Quando a vítima fala para outra pessoa, o agressor alega que ela está inventando ou exagerando”, explica.

Com isso ele vai desvalidando todas as falas da mulher, e “isso começa a acontecer com tanta frequência e intensidade que aos poucos a mulher começa a duvidar da própria sanidade mental, da própria capacidade para tomar decisões e fazer escolhas por conta própria”, observa a terapeuta.

Sinais de violência psicológica e como ela se manifesta

Frequentemente, as mulheres levam um longo tempo ou têm dificuldades em reconhecer a violência psicológica que estão sofrendo. Somente com o auxílio de outras pessoas é que elas podem se aproximar e entender que essa situação não é saudável. Às vezes, somente quando a violência psicológica evolui para uma violência física é que a pessoa percebe que o que acontecia antes também constituía uma forma de violência.

Muitas vítimas não tiveram exemplos de relacionamentos saudáveis na infância, por isso, não conseguem identificar que estão vivendo em um relacionamento abusivo. Quem está de fora normalmente percebe a situação com muito mais facilidade do que a pessoa que está vivendo. Mas existem vários sinais que indicam uma violência psicológica. 

Normalmente associamos a violência com algo mais intenso, como uma agressão física, mas a violência psicológica geralmente começa de uma forma mais sutil. “Começa com uma crítica a uma roupa, um comportamento, um pensamento. Essa crítica vai ficando mais intensa, vira um controle, uma proibição. Isso faz com que a mulher aos poucos vá perdendo a autoestima, a autoconfiança e o amor próprio”, manifesta Bárbara Lopes.

Camila diz que “o melhor termômetro para identificar se de fato você está em um relacionamento disfuncional é analisar se você teve uma mudança de comportamento, deixando de fazer coisas que antes gostava, se afastando da família e de amigos por imposição do companheiro.”

Além disso, a psicanalista pontua que é importante ficar em alerta. “Se você passa mais tempo chorando que sorrindo, tem medo de contar algo ao parceiro, vive ‘pisando em ovos’ e o seu brilho e a sua vontade de viver já não são mais os mesmos”, ressalta.

Camila ainda afirma que “é muito importante observar se o parceiro ignora seus sentimentos com frequência, distorce a realidade, faz chantagem emocional para conseguir o que deseja, isola a vítima da família e amigos, humilha publicamente, critica constantemente a sua aparência, escolhas ou ações.”

A partir disso, a mulher vive constantemente com medo da avaliação e julgamento do companheiro agressor. Ele impõe suas regras sobre como ela deve se comportar, falar, se vestir e com quem ela pode ou não falar, bem como onde pode ou não ir. Como resultado, ela teme constantemente a reação do agressor psicológico diante de seus comportamentos. Para evitar qualquer reação negativa, muitas vezes ela é forçada a evitar comportamentos que lhe trazem prazer e bem-estar, submetendo-se às vontades do agressor.

Consequências psicológicas e tratamento 

A violência psicológica pode ter consequências negativas para a saúde emocional, física, social e profissional de uma pessoa. Ela pode levar a problemas como ansiedade, depressão, baixa autoestima, dificuldades de relacionamento, problemas de desempenho, comportamentos prejudiciais e problemas de autoimagem e confiança. 

A psicóloga Bárbara informa que por causa da dificuldade de identificar logo no início “os prejuízos para a saúde mental são maiores, como a dificuldade de tomar decisões por conta própria, porque a pessoa não confia mais em si mesma para tomar as decisões, muitas vezes básicas.”

A dependência emocional também pode se tornar muito intensa, dificultando o término dessa relação. “O agressor faz com que a vítima se sinta incapaz e ela passa acreditar que depende dele”, expõe Bárbara.

Conforme a profissional, a psicoterapia é fundamental para tratar traumas decorrentes de violência psicológica. O processo terapêutico começa com o acolhimento e validação dos sentimentos e relatos da vítima, o que muitas vezes é negligenciado, especialmente no caso de mulheres vítimas de violência. Infelizmente, muitas vezes acredita-se que a vítima está inventando ou exagerando, culpabilizando-a pela situação em que se encontra. A psicoterapia ajuda a quebrar esse padrão e a lidar com o trauma.

“O primeiro passo na psicoterapia é acolher e validar os sentimentos da vítima, seguido por um processo de entendimento e canalização desses sentimentos, enquanto se trabalha no autoconhecimento e no amor próprio para restaurar a autoestima da pessoa”, explica Bárbara. É importante ressaltar que a autoestima não é determinada apenas por coisas superficiais, como fazer as unhas ou passar um batom.

Autoestima é a confiança nas próprias habilidades, qualidades e autonomia para realizar atividades pessoais, profissionais e de estudo. É a capacidade de gerenciar a própria vida. “A psicoterapia pode auxiliar as mulheres a reencontrar suas capacidades para lidar com diversas situações”, alega Bárbara.

Inicialmente, na psicoterapia, é comum lidar com os sintomas apresentados pela mulher, acolhendo e validando suas experiências. A terapeuta explica que muitas vezes, essas mulheres têm medo de sair de casa, dirigir, andar de bicicleta ou enfrentar entrevistas de emprego, o que pode gerar crises de ansiedade com sintomas físicos intensos, como palpitação e tremores. “Desse modo, trabalhamos primeiramente nessas questões, visando diminuir ou até mesmo cessar esses sintomas. Depois disso, podemos nos aprofundar mais no processo terapêutico”, conclui a psicóloga.

Necessidade do compartilhamento de informações sobre o tema

A falta de informação adequada pode ser uma barreira para combater a violência psicológica contra as mulheres. Com a facilidade de acesso à informação, muitas vezes só estão disponíveis dados imprecisos ou desatualizados. É fundamental que haja compartilhamento de informações precisas e experiências de mulheres que sofreram com a violência psicológica. 

Dessa forma, é possível aprender com essas histórias e fortalecer essa luta, evitando que outras mulheres passem pelo mesmo sofrimento e ajudando as que já passaram por essa situação. A informação é, portanto, uma ferramenta poderosa na luta contra a violência psicológica.

Para lidar com situações de violência, é importante ter acesso à informação sobre as diferentes formas de violência psicológica e seus efeitos, a fim de proteger a saúde mental e emocional. Acompanhamento profissional especializado e uma rede de apoio também são fundamentais. É essencial que nos tornemos uma rede de apoio para aqueles que estão sofrendo violência, incluindo amigos e familiares.

“O processo de autoconhecimento é crucial para proteger nossos limites e necessidades em um relacionamento, permitindo que nos posicionemos de forma assertiva e não aceitemos o que não nos faz bem”, afirma Bárbara. Ainda assim, uma rede de apoio é importante para nos ajudar a identificar e lidar com situações difíceis de forma adequada e acolhedora, evitando que a situação piore.

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