70% das mulheres pretas estão insatisfeitas com a variedade de tons de base do mercado

In Cultura, Geral
Tom da pele dificulta compra de base

A dificuldade de encontrar produtos adequados ao tom da pele com preço acessível chateia consumidores.

Sâmilla Oliveira

De acordo com a pesquisa Pele Negra, do Google, metade das mulheres brasileiras compra maquiagem para pele preta ou parda. Em 2017, a Fenty Beauty, marca de cosméticos da cantora Rihanna, foi lançada com o objetivo de não deixar ninguém de fora. “Beleza para todos” é a missão da marca. Mas como acontece com toda marca internacional, com a Fenty Beauty não foi diferente: chegou ao Brasil a um valor de compra nada acessível. 

Esse exemplo se repete com várias outras marcas internacionais, como MAC, Rare Beauty e Lancôme. Segundo o relatório do Google, a busca por cosméticos para pele preta cresce mais que as outras categorias em 60%. Com isso, a dificuldade de encontrar produtos ideais com preços acessíveis é queixa presente entre os consumidores.

A maquiadora Giuliana Miglietta conta que sempre pensamos em tom de pele, mas também existem os subtons. “Quando as marcas brasileiras fazem as bases escuras, elas geralmente só tem um subtom. A nossa pele pode ser dividida em pelo menos 4 subtons: o amarelado, o neutro, o vermelho e o verde oliva. Não é só ter a cor da base, é ter também o subtom”, acrescenta. 

Para a esteticista e maquiadora Edriana Melo, esse é um assunto muito sério. Ela destaca que toda pessoa quer se sentir mais bonita e elevar a autoestima. “Na minha opinião, a base é um dos pontos principais na maquiagem. Chegar em uma loja e não encontrar o seu tom é decepionante”, declara.

É exatamente esse o ponto que Anne Bossé, nascida na Costa do Marfim e naturalizada no Brasil, ressalta. Ela afirma que por muito tempo procurou uma base que se adequasse a sua pele, mas desistiu. Hoje, Anne tem duas bases que não são ideais. Ela conta que tenta improvisar misturando as duas cores, mas que ainda não está satisfeita. “Na hora, até que fica bom, mas depois de alguns minutos oxida e eu fico cinza”, afirma. 

Cores e mais cores 

Anne conta que na África, seu continente natal, ela usava pouca maquiagem. Mas, ao chegar no Brasil e ver todo mundo usando, também quis experimentar. Ela foi à procura, mas sem sucesso. Visitou várias lojas em um shopping de Campinas, em São Paulo, mas todas as cores que experimentou eram claras demais. “Me senti frustrada. Em certos eventos eu gostaria de usar maquiagem, mas não para ficar cinza”, comenta. 

A esteticista Edriana salienta que hoje, as marcas de maquiagens nacionais geralmente lançam 12 tons de base. “É quase uma piada”, comenta. É interessante citar que o censo de 2007 afirma que a escala de cores de pele dos brasileiros tem 144 tonalidades. Isso é resultado de mais de 500 anos de miscigenação. 

Um outro problema apontado pela estudante Anne é o chamado “pó banana”, produto que promete um efeito matte na pele. Ela conta que o item a deixa “muito branca” e que não tem coragem de sair de casa com aquela maquiagem. 

Ela ainda diz que se pudesse, gostaria de usar maquiagem com mais frequência. “Eu converso com as pessoas que têm a pele parecida com a minha para saber se os produtos delas funcionariam comigo, mas eu não confio em nenhuma base”, relata Anne.

Frustração

Anne se encaixa na estatística explorada por uma pesquisa da Avon em parceria com a consultoria Garimpa. O estudo afirma que 70% das mulheres negras não estão satisfeitas com a pluralidade de produtos disponíveis no mercado. Além disso, 46% das entrevistadas relataram desistir de comprar por não encontrar o tom ideal de base. 

Essa pesquisa foi feita com milhares de mulheres de todas as regiões do Brasil, de todas as classes sociais entre 18 e 61 anos. A pesquisa aponta que 95% sofrem com a desinformação no momento da compra e que, por isso, 51% das entrevistadas criam as suas próprias bases, misturando tons, como o caso de Anne. 

Vale ressaltar que 80% dessas mulheres concluem que a indústria de cosméticos internacionais é mais interessante em questão de opções, mas é uma compra irreal dadas as circunstâncias e prioridades financeiras do povo.  

Anne Bossé termina contando que nos últimos dias estava pensando em que maquiagem usar na sua formatura. “Eu quero estar bonita, quero estar maquiada, mas que maquiagem eu vou usar?”, questiona.

Conforme cita a maquiadora Giuliana, a maquiagem é uma arte. Ela menciona que para alguns, pode ser algo fútil, mas que para muitas pessoas, é algo extremamente importante, uma questão de identificação. Segundo ela, não conseguir ter algo simples, como uma base, é triste. “Eu sei o quanto é difícil a confecção de uma base e o quanto é difícil conseguir atender todo esse público. Todo tom de pele é extremamente diferente. Mas quanto mais formas e opções a gente encontrar, melhor,” finaliza Giuliana.

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