Crise do mercado editorial: as livrarias vão morrer?

In Cultura, Geral

Pesquisas apontam que o número de livrarias em funcionamento diminuiu 29% na última década.

Ana Júlia Alem

De acordo com uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Comércio de bens, Serviços e Turismo (CNC), desde 2013, o Brasil fechou cerca de 21 mil livrarias. Além disso, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e do Ministério do Trabalho, São Paulo foi o estado que mais perdeu lojas, chegando a 8.764 livrarias fechadas. Em contrapartida, o estado do Amazonas abriu 62 novas lojas durante esse período.

“Eu acredito que existem quatro principais motivos pelos fechamentos das livrarias: a relação de preço entre livrarias e marketplaces, pirataria, experiência oferecida e realidade econômica do Brasil. Alguns marketplaces (como a Amazon) oferecem livros por preços baixíssimos. Para as livrarias, acaba sendo muito difícil competir”, explica a influencer do nicho literário, Flávia Albuquerque.

Após o decreto de falência da Livraria Cultura, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) lamentou o fechamento e afirmou a importância do mercado editorial para a cultura brasileira. Além disso, o presidente da CBL Vítor Tavares conta que mesmo em meio à crise, a instituição percebeu o surgimento de novas livrarias. “O interesse pela literatura continua vivo e isso é perceptível pela grande quantidade de conteúdos sobre livros nas redes sociais”, explica.

Pirataria, compra de livros on-line e livros digitais

Para a advogada Érica Gomes o povo brasileiro tem o falho costume de considerar a pirataria normal.  “O nosso país está em primeiro lugar no ranking mundial de venda de produtos falsificados. Tem gente que compra bolsas ‘de marca’, CD’s ou DVD’s, cursos online e até livros. O impacto econômico disso é gigantesco”, diz.

Além disso, conta que os prejuízos dessa prática não afetam somente os lojistas. Muito pelo contrário, isso faz com que o país não gere receitas econômicas (não recolhimento de impostos) e os produtores dos conteúdos não obtenham lucros por suas criações. “A pirataria é crime e está previsto no art. 184 do Código Penal, com pena de até quatro anos de prisão e multa. Quem falsifica comete crime, mas quem consome também”, conclui.

Outro argumento utilizado para explicar a crise no mercado editorial é que os livros vendidos em marketplaces são mais baratos que os de livrarias físicas, por isso muitas pessoas as deixam de lado. Porém, uma livraria física tem gastos que as lojas online não têm, como espaço bem localizado, iluminação, decoração e funcionários, todas essas questões influenciam no valor final de um produto.

A influencer conta que compra livros em livrarias físicas e na internet, mas que costuma dar prioridade a ir às livrarias obter novas obras. “Existe uma ideia muito forte de que os preços em livrarias sempre são mais altos, mas na verdade não é assim. Os lançamentos, no caso, possuem o mesmo preço tanto em lojas online quanto físicas. Comprando pessoalmente, é possível economizar com frete e apoiar negócios locais. Eu acredito que quem tem condições de comprar livros físicos em livrarias, precisa sempre considerar essa possibilidade”, reforça.

Flávia também explica que é muito a favor do consumo de e-books, pois a digitalização dos livros é inevitável e faz parte da inovação. Além disso, explica que existem diferentes ferramentas que, através de assinaturas, fornecem conteúdos mais acessíveis e ilimitados, como o Kindle Unlimited e TAG Livros. “Muitas editoras adotaram o mercado digital e algumas já estão trazendo livros em formato de áudio, eu acho isso incrível”, explica.

“O nosso país sempre foi muito rico em literatura. Principalmente com as redes sociais, o interesse pela leitura vem crescendo muito entre os jovens. Eu acredito que o potencial deve ser super explorado, inclusive através do apoio a autores”, comenta Flávia.

Como estimular o hábito da leitura?

Clarice Marques é criadora de conteúdos literários no Instagram e acredita que promover a leitura proporciona diferentes benefícios para vida de alguém que lê, como estímulo da criatividade, imaginação e concentração, desenvolvimento de habilidades linguísticas, conhecimento de várias culturas. “Além disso, no caso de crianças, pode auxiliar na alfabetização e ampliar conexões cerebrais que despertam hormônios de prazer e relaxamento”, comenta.

Para ela, existem algumas dicas que, se aplicadas no dia a dia, podem ajudar a desenvolver a leitura constante, tais como:

  • crie um ambiente confortável para a leitura;
  • descubra o estilo de livros que te atrai;
  • esteja sempre com um livro. Assim, sempre que tiver um tempo vago poderá apreciar uma boa história;
  • converse sobre livros.

“A leitura precisa ser prazerosa. Existem diversos gêneros literários e eu acredito que cada pessoa deve estar aberta a novos livros, até descobrir qual estilo realmente gosta”, conclui Flávia.

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